Terminei de ler há poucos dias a obra O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Além da da qualidade da obra em si, a qual já resenhei lá no blog, essa leitura me pareceu bastante provocativa para os dias atuais.
Na obra, Dorian Gray, seduzido pela busca desenfreada pela juventude eterna, troca a sua alma pela imortalidade de sua beleza externa. Ele havia ganhado um retrato, e esse quadro passa a envelhecer em seu lugar, além de adquirir aspectos sombrios sempre que realizava más ações que o apodreciam por dentro.
Essa busca desenfreada acabou pela completa deterioração do “eu interior” do personagem, que vivia uma vida dupla: o que é exposto para a sociedade do século XIX em que vive, e a realidade do seu dia a dia, com a alma consumida e a vergonha do próprio retrado.
Essa caracterização de Wilde lembra um pouco o mito grego de Narciso. Na mitologia, Narciso era um jovem notavelmente belo que rejeitou os avanços amorosos de outros, incluindo a ninfa Eco. Como castigo por sua indiferença, Narciso foi amaldiçoado pela deusa Nêmesis, fazendo com que ele se apaixonasse por sua própria imagem refletida na água de uma fonte. Fascinado por sua própria beleza, Narciso se torna incapaz de afastar o olhar do reflexo e acaba morrendo de inanição à beira da fonte.
Portanto, os dois personagens possuem um destino trágico relacionado ao seu narcisismo. A armadilha do ego, exemplificada nas histórias de Narciso e Dorian Gray, é um lembrete dos riscos associados à autoadmiração desenfreada. Em O Retrato de Dorian Gray, vemos Dorian trocar a integridade de sua alma pela preservação da beleza externa, enquanto em Narciso, a obsessão por sua própria imagem leva à sua trágica ruína. Essas narrativas destacam como um ego inflado pode corroer a ética, relacionamentos e, em última instância, a própria essência do indivíduo.
➜ Crônica continua no Patreon…
Veja também outros artigos recentes do blog!
