Se há alguns anos alguém me dissesse que nada é bom ou ruim por si só eu provavelmente discordaria veementemente.
Tal afirmação, à época, pareceria completamente contrária ao senso comum. Internamente, cada indivíduo abriga um conjunto de normas que delimitam o que é virtuoso e o que é execrável, e, em geral, tendemos a avaliar o mundo através da lente de nossos próprios pontos de vista.
No entanto, uma das mágicas da leitura é nos apresentar pensamentos contra intuitivos que muitas vezes desafiam as nossas experiências prévias.
Há algum tempo, comecei a estudar a obra do Estóicos. Quero, aqui, ressaltar um trecho de Marco Aurélio e seu entendimento sobre o tema. “Se a dor é um mal, ou ela o é em relação ao corpo, ou em relação à alma. Mas está em poder da alma preservar a própria paz e tranquilidade e não supor que a dor é má. Pois todo julgamento e deliberação; todo prosseguimento ou aversão vêm de dentro, para onde o sentido do mal não pode penetrar (a menos que lhe seja permitido entrar pela opinião)”.
Aqui, Marco Aurélio está dizendo que, na verdade, as coisas em si não são boas ou ruins e o que importa é como nós as enxergamos. Ele destaca que a dor, por exemplo, não é intrinsecamente má, mas é a nossa opinião sobre ela que pode torná-la boa ou má. Ou seja, o modo como interpretamos e reagimos às situações influencia se as consideramos positivas ou negativas. A mensagem dele é que temos o poder de controlar nossas perspectivas e, assim, moldar a nossa experiência do mundo.
Aqui, devemos deixar de lado o que é obviamente vil (já que esses atos sempre vão nos despertar o desprezo) e concentrar nossa reflexão sobre os atos do dia a dia que podem ter diversas interpretações e que tem um enorme poder para afetar a tranquilidade do nosso dia a dia.
Vou dar um exemplo: Na última quarta-feira passei por um conhecido. Acenei e ele não me respondeu. Como eu encaro essa situação vem da minha própria personalidade, e isso pode influenciar diretamente o meu sentimento futuro em relação àquela pessoa. Vejamos, há diversos aspectos que podem ter feito com que a pessoa não me cumprimentasse de volta:
- Ele não me viu (interpretação positiva).
- Ele me viu, mas não gosta de mim e prefere fingir que não me viu (interpretação negativa).
- Ele me viu, porém estava atrasado para um compromisso importante (interpretação neutra).
- Ele me viu, porém não me reconheceu (interpretação negativa).
No entanto, pode ser que o tempo passe e eu nunca saiba o real motivo que o levou a não me cumprimentar. Mas, o sentimento que vem de dentro, o que eu acredito ser verdade pode direcionar todo o meu comportamento futuro e o modo como eu me sinto em relação àquela pessoa.
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