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A Vida Mentirosa Dos Adultos – Elena Ferrante [Resenha]

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Neste post, você acompanhará uma resenha de A Vida Mentirosa dos Adultos, lançada em 2019 e escrita por Elena Ferrante, pseudônimo de uma notável autora contemporânea italiana.

O livro, que se passa em 1990, em Nápoles, na Itália, acompanha a história de Giovanna, dos seus 12 aos 16 anos, pela transição da infância para a adolescência e, então, para a vida adulta. Uma história que mostra a complexidade de crescer e lidar com os percalços que a vida nos apresenta, com profundas reflexões e uma escrita impactante e fluída.

“Mentiras, mentiras, os adultos as proíbem, porém dizem tantas (Página 199).”

O sucesso da obra foi tão grande que os direitos foram adquiridos pela NETFLIX para a uma série que vai estrear no próximo dia 4 de janeiro. Essa não é a primeira obra de Ferrante adaptada às telinhas. A HBO lançou em 2018 a série Amiga Genial. O mundo também viu o sucesso A Filha Perdida ser indicado ao Oscar. 

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O Início do Fim

Começo a resenha de A Vida Mentirosa dos Adultos pelo ponto de partida de todos os problemas da vida de Giovanna. Uma fala de seu pai. A vida da pré-adolescente era a melhor que poderia pedir, sua família era perfeita, seus pais se amavam e a amavam. Porém, Andrea não sabia como a vida da família mudaria após sussurrar para sua esposa como sua filha   estava ficando feia, igual a tia, Vittoria, sua irmã, uma mulher desagradável e ruim. Giovanna não compreende todo o abismo daquela frase, e, impactada pelas palavras do pai, decide entrar numa empreitada; conhecer sua tia.

“Foi assim que, aos doze anos, soube pela voz do meu pai, sufocada pelo esforço de mantê-la baixa, que eu estava ficando igual à sua irmã, uma mulher na qual – eu o ouvira dizer desde sempre – feiura e maldade coincidiam perfeitamente (Página 13).”

Daí em diante, a menina torna uma missão descobrir mais sobre a mulher que seus pais tanto evitam. Determinada a se encontrar com a tia, Giovanna não sabe que sua família está prestes a desmoronar quando começa a se encontrar frequentemente com Vittoria. Questões existenciais surgem na vida de Giovanna, que não sabe muito bem como lidar com os contrastes de uma Nápoles rica e abastada, na qual ela vive, com uma educação culta, e uma Nápoles decadente em que vive sua tia. 

Cada vez mais confusa com as falas de seu pai atacando a irmã, e vice-versa, a garota se encontra numa corda bamba da família, descobrindo mais sobre tudo que lhe foi escondido até hoje. Esperançosa de que pode unir a família, Giovanna se esforça para manter uma boa relação com seus pais, e Vittoria, uma mulher difícil e encrenqueira, sem saber que essa nova relação mudará o curso de sua vida.

A Transição

O livro nos mergulha na realidade da vida. As mudanças causadas pela fala do pai são irreversíveis e transformaram para sempre a família. Enquanto lida com os problemas em casa, Giovanna aconselha as visitas a “outra” Nápoles e o resto da família com suas questões existenciais, cada vez mais frequentes, quando a garota começa a demonstrar com cada vez mais frequência quadros depressivos e ansiosos, e uma preocupação crescente com sua feiura – sendo essa estética ou de caráter.

“Eu deveria ter uma vida feliz, mas estava começando um período infeliz, sem jamais vivenciar a alegria de me sentir como eles haviam se sentido e se sentem. (Página 27)

Vemos a partir deste ponto, começa o seu distanciamento dos pais. A situação que abala as estruturas da família também serve de marco para o fim de sua infância. Com atitudes que seriam consideradas “rebeldes” e sem a presença tão constante de figuras paternais, Giovanna passa a se sentir sozinha, e com vontade de se transformar na pior pessoa possível, com a feiura que seu pai alegou que tinha. Percebemos como a autora constrói essa fase da adolescência de forma a mostrar os sentimentos mais profundos de Giovanna. A raiva pelo que seus pais fizeram, a tristeza por não ser amada, a confusão com toda a mudança e saída da infância. 

A garota, devido aos acontecimentos de sua vida, quase passa da infância direto para a vida adulta. Necessitando se virar sozinha, e amadurecendo rápido demais em vista das tragédias de sua família, Giovanna é obrigada a adquirir comportamentos que não condizem com sua idade, assim como os pensamentos que começa a ter, e o contato com coisas consideradas adultas.

“Eu me sinto feia, tenho um temperamento ruim, mas gostaria de ser amada.” Página 250

“O que se passava, afinal, no mundo dos adultos, na cabeça de pessoas extremamente racionais, em seus corpos carregados de saber? O que os reduzia a animais dentre os menos confiáveis, piores do que os répteis? (Página 169)

A Paixão

Um dos últimos e principais temas tratados pela autora é a paixão e os desejos despertados nesta fase. Ao conhecer um homem, Giovanna se sente pela primeira vez realmente atraída por alguém e começa a presenciar, pela primeira vez, os efeitos de uma paixão avassaladora. Fazendo de tudo para vê-lo, a garota fala e se comporta sempre na tentativa de impressioná-lo, se moldando a seus gostos e preferências.

Mostrando como os sentimentos afloram quando se está apaixonado, Ferrante começa a trazer questionamentos sobre toda a intensidade deste momento e sobre a confusão mental que criamos entre um amor e uma paixão, um desejo e uma obsessão, e como isso interfere no nosso julgamento, nas nossas ações.

“Mas existe um véu sombrio que pode cair de uma hora pra outra. É uma cegueira repentina, você não sabe mais manter a distância, acaba colidindo. Só algumas pessoas ou todas, após certo patamar, ficavam cegas de raiva? E éramos mais verdadeiros quando enxergávamos tudo nitidamente ou quando os sentimentos mais robustos e densos – o ódio, o amor – nos cegavam?” Página 343

Escrita impactante

Para finalizar a resenha de A Vida Mentirosa dos Adultos, trago as conclusões e reflexões que tive ao longo do livro. Esta se mostrou uma experiência diferente de muitos livros que já li, muito reveladora e realista.

A escrita de Ferrante é maravilhosa e envolvente – um dos grandes diferenciais do livro. Com narrações fantásticas (feitas pela própria personagem central, Giovanna), os questionamentos da obra trazem grandes reflexões sobre a jornada de cada um. Ela é direta, fluída, objetiva, até de certa forma agressiva (por ser extremamente realista e cínica). Assim, esse é o tipo de livro que “joga a realidade na sua cara”, e eu gosto muito disso. Com um propósito total de espantar o leitor com a dureza da vida, Ferrante é muito inteligente no que diz respeito à construção de diálogos e narrações, assim como introduzir o leitor na mente da personagem.

Proposta inovadora

Eu amo a proposta deste livro, a ideia de apresentar a dura realidade de uma garota como forma de mostrar como isso se aplica na vida de cada um. Com análises psicológicas incríveis, a autora sabe nos fazer perceber como nossos pais, parentes e pessoas de convivência próxima influenciam nosso caráter, comportamento e personalidade. Como a vida adulta não passa de uma grande farsa, o que se ensina às crianças é o que não queremos que elas façam ou se tornem, mas essas são as mesmas coisas que todos os adultos fazem e falam. Todas as mentiras que contamos a nós mesmos e aos outros.

Enredo que deixou a desejar

 Apesar do ótimo começo, com uma ótima construção inicial dos personagens, em especial Giovanna, seus pais e sua tia, o enredo e propósito do livro se perde com o tempo. 

 A primeira metade, com o enfoque no fim da infância de Giovanna, retrata muito bem os questionamentos e mudanças dessa fase, e a mudança de relação com as pessoas ao redor. Contudo, da metade até o fim, todo o propósito do livro parece começar a se perder na própria ideia. Com um enfoque desnecessariamente exagerado em questões sexuais e amorosas (apesar de ser essencial retratá-las nesta fase), o livro se torna raso e perde muitas outras reflexões que poderiam ser feitas, tão importantes quanto. Nas últimas partes do livro, Giovanna só sabe falar de sua paixão obsessiva, que chega a transformar a narração em algo chato e entediante. 

 Fora isso, faltou na construção dos personagens ao longo do livro. Apesar de um ótimo início neste quesito, parece que nenhum personagem amadurece de verdade – com exceção de Giovanna -, e alguns parecem até ser esquecidos ao longo da narrativa, como a mãe de Giovanna.

 Com uma proposta fascinante, o livro pecou um pouco no enredo e na construção de personagens. Entretanto, acredito que ainda sim é uma leitura que vale a pena pela sua incrível escrita e reflexões necessárias numa sociedade que cada vez mais está preocupada com a beleza, especialmente estética, e um mundo acelerado demais para que as pessoas possam acompanhar. 

Sobre a psique humana e influências do meio, e a complicada transição para vida adulta, pode ter certeza que é um livro que te fará questionar muitas coisas!

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