No texto de hoje você irá acompanhar uma resenha de Viúva de Ferro da escritora chinesa Xiran Jay Zhao – uma obra que une ficção científica, fantasia e elementos da história chinesa, sendo um dos lançamentos mais aguardados do ano.
Com robôs estratégicos, mundos distópicos e crítica contínua sobre o patriarcado, “Viúva de Ferro”, é um grande hit internacional. A escritora Xiran Jay Zhao, transita pelos costumes, tradições e cultura do próprio país de origem, China, enquanto narra a vida da protagonista Wu Zetian. Nessa fantasia, o leitor irá mergulhar, e se sentir abraçado com muita representatividade, e temas debatidos no cotidiano.
“Huaxia”, é um mundo com características imperialistas, um governo centralizado, mas cercado por povoados empobrecidos. Contudo, o país é constantemente atacado por Hunduns (pouco se sabe sobre a origem), que consiste em uma espécie de monstros (habitantes do outro lado da Grande Muralha). Esse povo tem o intuito de conquistar e dizimar toda “Huaxia”. E, para evitar o domínio dessas criaturas, são criadas crisálidas (robôs gigantes), manejadas por seus melhores pilotos, mas supervisionadas pelos estrategistas e o próprio presidente do país, Gao Qiu.
“Eu nunca saberei seus verdadeiros motivos. Tudo bem. Desde que eu não ceda às emoções, não perderei qualquer jogo que possamos estar jogando.”
>>> Está gostando de ler a resenha de Viúva de Ferro? Esse texto é uma COLLAB entre o IG literário @blogleituranna, criado pela autora Anna Luíza Tenório, e o blog Os Melhores Livros. Também estamos presentes no Telegram, Youtube e Instagram, nos quais você terá acesso a textos como esses e também diversos outros guias de leitura postados diariamente aqui no blog! Caso goste da nossa resenha, você pode adquirir o livro através desse link para ajudar no crescimento do blog!
Resenha de Viúva de Ferro: O Contexto Geral
Agora que já conhecemos um pouco do mundo em que se passa a obra, podemos continuar nossa resenha de Viúva de Ferro explicando que para que as crisálidas funcionem é necessário selecionar pilotos-concubinas – moças que conectadas aos pilotos homens, para que juntos possam fornecer energia vital (Qi).
Porém, muitas vezes a energia dos pilotos é tão forte que, em muitos momentos, as pilotos-concubinas morrem. É nesse contexto, que conhecemos a protagonista Wu Zetian (nome da primeira imperatriz chinesa), descrita na história como uma garota pobre, com uma família tradicionalista, mas marcada pela rigidez patriarcal.
Yin e yang representam as forças opostas que agem para dar vida ao universo. Yin é tudo que é frio, escuro, lento, passivo e feminino. Yang é tudo que é quente, luminoso, rápido, ativo e masculino.
Depois que a sua irmã mais velha morre dentro de uma crisálida, em combate, ela está decidida a se vingar do piloto parceiro da sua irmã, e descobrir o porquê de o sistema governamental privilegiar os pilotos e deixar que as garotas absorvam toda a sobrecarga em batalha. Desde criança seus pais direcionaram a sua criação para o momento em que eles “ofereceriam” Wu para, voluntariamente, ser uma piloto-concubina, afinal de contas, para eles e muitos moradores, esse título é de grande estima e rende para a família uma boa quantidade em dinheiro.
Porém, a moça nunca se sentiu persuadida em fazer parte dos “grandes defensores” do país, mas somente com a morte da sua irmã (sem nome mencionado na história), a “sede” de vingança aflorou. A execução do seu plano não será uma tarefa fácil, e mesmo depois ela ainda descobrirá a verdadeira razão de tudo, que irá desafiar o seu senso crítico sobre determinados paradigmas.
Wu Zetian e a Crítica Cultural
É impossível não notar determinadas semelhanças com diversas outras protagonistas brilhantes do cenário literário. Contudo, a história e decisões da Wu são marcadas pelo tradicionalismo cultural da China. A história narra momentos deveras chocantes e marcantes da cultura chinesa, como por exemplo o procedimento que diversas garotas, em meados de 937 (depois de cristo), passavam. “Pé de lótus”, consistia na amarração dos pés das jovens, para modificar seus membros (moldando-os em formato da flor lótus).
Esse procedimento era conhecido como uma característica marcante de famílias ricas que não precisavam de seus pés para trabalhar. O pé de lótus se tornou reconhecido como um padrão de beleza a ser seguido, todavia, causando deficiência locomotoras, fazendo com que muitos reformistas condenem essa tradição (mesmo ainda sendo presente em determinadas províncias). Esse ponto em questão reflete, categoricamente, na vida da personagem, uma vez que ao passar por esse ritual, seus pais não lhe dão escolha, fazendo com que a sua vida seja encarada de outro jeito.
Outro ponto cativante da história é a forma como a personagem discute internamente e externaliza o papel da mulher socialmente. O modelo de pilotos é sempre colocado em xeque, e a forma como elas são “escolhidas” e verdadeiramente usadas, em muitos momentos, a contragosto, por seus pilotos. O maior desafio para Wu é procurar persuadir e, mesmo assim, compreender opiniões que divergem da sua.
Em “Viúva de Ferro” é possível sim fazer uma excelente reflexão sobre determinados pontos e contrapontos da história, mas é imprescindível ter mente aberta e paciência para acompanhar uma mulher sendo constantemente julgada por suas ações e sim errando nas tomadas de decisões.
“Nunca quis aprender as lições de meu pai. Meu objetivo sempre foi cutucá-lo até ele explodir. Alguns poucos momentos de dor eram melhores do que dias e noites de medo.”
Outro exemplo preciso sobre a discussão patriarcal da história está no modelo de família predominante da narrativa. A família da Wu é composta por um pai repressivo e uma mãe e avó omissas emocionalmente. Apegados às tradições, todos enfatizam a necessidade que Wu precisa de se guardar, para o tão esperado momento, e reprimir qualquer desejo e contato com o sexo oposto. Ainda assim, Wu mantém uma ligação profunda com Yizhi (filho ilegítimo de Gao Qiu).
Nesse contexto, é possível verificar a importância que as concubinas possuem para todo o funcionamento social e político. Mesmo sendo tratadas abaixo do esperado, não é preciso muito esforço para perceber que as jovens são determinantes para o funcionamento da segurança do país. No entanto, Wu apresenta ter um Qi acima do comum, intrigando a todos e, depois de determinados acontecimentos, ela é sentenciada a ser parceira do piloto rebelde Li Shimin. Mas Li, mesmo uma fama provocadora e assustadora, esconde um passado traumático. Após uma combinação de fatores, ela irá se unir a Wu Zetian para derrotar qualquer opressão.
“O amor pode ser infinito, desde que nosso coração consiga se abrir. Quer dizer, quando a gente pensa a respeito, o principal combustível do amor é a compatibilidade. O fato de duas pessoas fazerem uma à outra felizes estando juntas.”
É preciso dizer que, quando ambos os personagens (Yizhi e Li Shimin) são apresentados para o leitor, é notório a discussão sutil sobre a orientação sexual dos personagens. “Viúva de Ferro” é caracterizado, também, por ser uma história queer, poliamorosa, que trata o amor como um sentimento sem barreiras e desprendido de preconceitos. Não obstante, a própria “Huaxia”, procura saber lidar com as relações multiplurais, mas quando se fala das regiões afastadas, esse comportamento é veemente reprimido.
Conclusão
“Você é o milagre pelo qual estive esperando todo esse tempo que passei indo para batalhas e rezando para que algo mudasse. Não consigo suportar a ideia de perder você.”
É possível perceber em nossa resenha de Viúva de Ferro que a obra prova em cada página porque ele merece ser lido e apreciado pelos leitores. Fugindo dos estereótipos dos young adutls que estamos acostumados, Wu Zetian se torna uma personagem com emoções fortes, mas proporcional com a situação que está vivendo. Mesmo que a narrativa seja desafiadora, quando não se tem muito conhecimento cultural sobre o povo chines, a escritora Xiran Jay Zhao, nos leva ao mundo comum (mesmo futurístico), que ainda permanece com tradições passadas.
Além disso, o romance entre o personagem é trabalhado de forma pontual ao longo do livro e, particularmente, achei incrível como a escritora trouxe esse tema para uma história que, tecnicamente, dá preferência aos dramas sociais e patriarcais. Com um início cativante, “viúva de fero,” é uma duologia (ainda sem previsão sobre a publicação do segundo livro no Brasil), que têm grandes expectativas e corresponde, integralmente, a cada uma. Depois de um final bombástico e revelador, podemos ter grandes esperanças sobre o segundo livro e as futuras publicações da autora.
Essa Resenha de Viúva de Ferro foi escrita por Anna Luiza Tenório, do IG Literário Leituranna. Abaixo, você poderá conhecer também outros posts relacionados publicados aqui no blog!