a guerra nao tem rosto de mulher resenha

A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, de Svetlana Aleksiévitch [Resenha]

[cn-social-icon]

A Guerra Não Tem Rosto de Mulher é um livro escrito pela autora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, publicado em 1985. A obra trata da participação das mulheres soviéticas na Segunda Guerra Mundial, em que cerca de um milhão de mulheres serviram no Exército Vermelho. A obra é uma coletânea de depoimentos de mulheres que participaram da guerra, incluindo enfermeiras, franco-atiradoras, pilotos, entre outras funções. As histórias das mulheres retratam as dificuldades que enfrentaram durante a guerra, a discriminação de gênero e a violência sexual. Neste texto, vamos fazer uma resenha de A Guerra Não Tem Rosto de Mulher para melhor compreensão da obra. 

A Guerra não tem rosto de mulher é considerado um importante relato sobre a participação feminina na guerra e sobre os efeitos da guerra na vida das mulheres. O livro foi muito bem recebido pela crítica e é um marco na obra da autora, que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2015.

>>> Caso esteja gostando da nossa resenha de A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, também convido para se inscrever nas nossas redes sociais: Instagram; Canal do Telegram e Canal do Youtube, para acompanharem resenhas como essas em primeira mão! Você também ajuda o blog se adquirir o livro através deste link!

A Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial foi um combate intenso, violento e devastador que marcou a vida de incontáveis famílias e sobreviventes que enfrentaram esse maquiavélico conflito de diversas formas durante os seis anos que a guerra perdurou. Porém, o que vemos com frequência nos meios de comunicação são histórias contadas a partir de relatos masculinos. E onde estão as mulheres afinal de contas? 

A autora Svetlana Aleksiévitch se encarregou de mostrar esse lado da história, com relatos de mulheres fortes e batalhadoras que sofreram os piores pesadelos que a guerra poderia oferecer, relacionando-se com os mesmos apuros que os homens passaram naquele período, mas que foram ofuscados da história para poderem exaltar unicamente a figura masculina.

Aleksiévitch ajudou essas mulheres a exprimirem suas dores através da fala, de tirarem dentro de si as lembranças mais antigas e enfim descarregarem o peso de seus fardos compartilhando os sentimentos mais profundos que sufocaram por tanto tempo. Sentimentos que foram reprimidos por motivos diversos.

A Batalha de Stalingrado

Milhões dos prisioneiros de guerra russos morreram em consequência da fome e doenças nos campos de concentração alemães. E a situação na Rússia não era nem um pouco fácil, mas sua resistência garantiu a vitória dos soviéticos sobre os nazistas em 1942. A União Soviética enfrentou perdas catastróficas nas primeiras semanas após o ataque alemão e pouco depois encarou o mais sangrento combate da história, que durou cerca de cinco meses e aconteceu dentro da própria cidade: A Batalha de Stalingrado. Hoje a localidade é chamada de Volgogrado, pois está às margens do rio Volga.

Josef Stalin fez questão de proibir a evacuação dos civis russos com o objetivo de fazer os soldados lutarem com mais bravura para protegerem suas famílias desabrigadas que suportaram e pereceram sem suas casas bombardeadas pelos exércitos de Hitler. O Exército Vermelho, por sua vez, avançava cada vez mais e os soldados permaneceram firmes contra as investidas alemãs, derrotando-as para contar história.

Com todos os homens inseridos no exército, as mulheres tinham que se virar com o que tinham à disposição. Elas trabalhavam em fábricas, dirigiam tratores, cuidavam da terra e de suas casas, além de criarem os próprios filhos sozinhas. Algumas chegaram até a desenvolver habilidades militares, pois com o passar do ano, as mulheres soviéticas eram convocadas em números cada vez maiores para suprir ou até mesmo substituir os falecidos e moribundos homens do front. Então tudo o que restou a elas foi endurecer o coração e seguir para a batalha de suas vidas.

À medida que o combate se desenrolava ao passar dos meses, muitos jovens que ainda não tinham idade o suficiente para entrarem no exército passaram a trabalhar nas fábricas militares e por fim acabavam de um jeito ou de outro se incorporando ao exército. Entre eles, surpreendentemente havia um grande número de garotas incluídas. Ainda que fossem pouco maduras, queriam contribuir para acelerar o mais depressa possível o fim daquele pesadelo horripilante que assombrava a todos. Além disso, o exército oferecia melhores condições para civis que penosamente sofriam para suprir suas necessidades mais básicas, e sonhavam desesperadamente pelo bem-estar de suas famílias desprotegidas.

Quando a batalha de Stalingrado finalmente chegou ao fim e todos puderam enfim respirar aliviados novamente, centenas de milhares de mulheres já haviam se alistado ao Exército Vermelho. O país havia entrado em uma crise tão excruciante e perdido tantos de seus homens que o governo não teve outra escolha a não ser recorrer às mulheres e posicioná-las em cargos militares desocupados. 

Um número surpreendente que envergonhava alguns dos homens, que com o tempo, passaram a se culpar de terem utilizado dos seres mais “delicados” para tarefas que deviam ser vitaliciamente masculinas. Outros, por sua vez, se orgulhavam e se vangloriavam de terem mulheres lutando ao seu lado, ou até mesmo os liderando. Defendendo-as com unhas e dentes para quem tivesse a coragem de ameaçá-las e/ou humilhá-las. Afinal, elas eram suas irmãzinhas e mereciam o respeito mais fundamental, assim como qualquer outro ser humano que se encontrava ali, arriscando sua vida diariamente para uma vida melhor.

As Mulheres do Exército Vermelho 

Como antes dito, quase um milhão de mulheres lutaram no exército vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas suas histórias nunca antes foram contadas. Fosse por medo ou simplesmente porque queriam se esquecer daquela pequena e aterrorizante porção de suas vidas. Svetlana deixa que essas vozes repercutam de forma inquieta e arrebatadoramente fiel às suas lembranças. Memórias antigas que evocam o frio mais intenso, a fome mais dolorida, a violência sexual mais angustiante e a sombra onipresente da morte que as perseguia como suas próprias sombras.

Os diversos relatos presentes neste livro trazem uma visão real e sanguinária da guerra. Uma visão que quase nunca é vista nos filmes e romances sobre esse tema. Não sobre o heroísmo masculino, ou os mínimos ferimentos de um soldado sujo de fuligem. Eles também não falam simplesmente sobre vitórias e derrotas, falam sobre o amor e a importância deste para que fossem capazes de suportar o inferno de Stalingrado. É impossível não se emocionar a cada virar de página.  

Outro ponto muito retratado no livro é a morte. E sinceramente, é a coisa mais autêntica que se pode ler em um livro com essa temática. É a imagem mais fiel da brevidade a qual a vida humana é resumida.

Um ponto interessante e assustador é que todas as mulheres relatam a perda repentina de seus fluxos mensais. Isso mesmo, nenhuma mulher menstruou enquanto esteve na guerra. Seus organismos simplesmente perdiam a vida. A autoestima da mulher russa se reduzia a pó. Elas não se achavam bonitas, elas simplesmente não tinham o que usar. As roupas e calçados não eram adequadas a elas por serem grandes demais, ou masculinas demais. Essas pobres moças eram obrigadas a usarem uniformes masculinos porque o exército geralmente não criava uniformes específicos para mulheres.

A fobia da cor vermelha também é bastante relatada e quase nunca deixada em segundo plano. Muitas dessas mulheres depois da guerra sentiam aversão ao ver a tal cor, nem mesmo no tom mais desbotado possível. O vermelho desbloqueava gatilhos inimagináveis, principalmente para as moças que um dia trabalharam diretamente nos hospitais cirúrgicos onde viam o sofrimento em sua fase mais cruel.

A Marcha Soviética

a guerra nao tem rosto de mulher

A marcha soviética (hino de guerra do exército vermelho) foi citado em um dos relatos. E foi um dos momentos mais emocionantes na história. A soldada foi a única corajosa a se erguer na famosa “terra de ninguém” e ajudar um soldado moribundo a se arrastar até a trincheira russa. Ela cantou essa música durante todo o processo e ninguém do outro lado da trincheira inimiga deu um único tiro sequer. Essa mulher conseguiu ressuscitar a humanidade dos alemães se arriscando para salvar um dos dela que ninguém mais salvaria.

As histórias de amor também são comoventes e eletrizantes. O leitor passa a narrativa inteira torcendo por um final feliz em meio a todo aquele caos. O famoso “quando essa guerra acabar quero me casar com você” acontece de fato em alguns dos relatos. Mas infelizmente, nem todos tiveram o felizes para sempre.

Esse livro mostra a realidade desse conflito de uma forma pesada que fará o leitor refletir como nunca antes quando o assunto são as Grandes Guerras. Eu particularmente chorei ininterruptamente com a obra de Aleksiévitch e devo admitir que no final eu adquiri um aprendizado novo. Uma concepção extraordinariamente sobrenatural sobre a vida humana.

Conclusão da Resenha de A Guerra Não Tem Rosto de Mulher

Concluímos nossa resenha de A Guerra Não Tem Rosto de Mulher afirmando que essa é uma leitura necessária. Não tem como odiar algo tão profundo e verdadeiro como esse livro, pois além de ter marcado a vida de cada uma dessas heroínas, é bom saber que elas puderam contar com alguém apesar da luta diária, do preconceito e das críticas que sofreram da sociedade pós guerra. E é muito bom saber que elas puderam contar com alguém no final. 

Muitas das ex-soldadas terminaram suas vidas lembrando a guerra com doçura apesar do tudo, enxergando com outros olhos, vendo da própria realidade o que poderiam ter feito e sido naquele conflito sangrento. Existem finais felizes, mas infelizmente outros não terminaram como queremos. É indescritível o sentimento que o leitor vai experimentar após o término da leitura.

Gostou da nossa nossa resenha de A Guerra Não Tem Rosto de Mulher? Veja também outros artigos recentes do blog! Caso leia alguma das obras sugeridas, marque a gente nas redes sociais: @osmelhoreslivros!

No post found!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *