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Otelo: A Mais Ilustre Tragédia de Shakespeare [Resenha]

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Nesse texto vamos fazer uma resenha de Otelo ou “A tragédia de Otelo”, obra que é uma das mais ilustres tragédias de William Shakespeare , publicada pela primeira vez por volta de 1622. No entanto, sua composição é datada de 1604. 

O seu personagem principal, que empresta o nome a obra, é é um nobre mouro a serviço do Estado veneziano, negro, e um dos principais comandantes da guerra contra a Turquia que acaba por se apaixonar pela jovem Desdêmona.

Otelo é venerado como general, mas ainda sofre com o julgamento pela cor de sua pele que recebe de todos ao seu redor. Aliás, a peça é rica no seu discurso contra o racismo e xenofobia tendo em vista que Otelo é desrespeitado por causa da cor de sua pele e, mesmo sendo um importante membro do exército, não é considerado um veneziano e sim, um forasteiro.

Cássio é um escudeiro fiel, porém de cabeça fraca: trata Desdêmona com educação e cavalheirismo, mas quando se trata de outras mulheres é grosseiro e rude, como quase todos os homens da época. Ele cai direitinho nas mentiras de Iago e seu desfecho não é dos melhores.

Iago, seu alferes, na ambição de tomar o lugar de  Otelo, artimanha de todas as maneiras possíveis para alcançar seu objetivo. Principalmente no relacionamento de Otelo com Desdêmona. O fato é que esse personagem era a personificação do demônio por tudo que ele apronta contra Otelo, manipulando várias pessoas e situações em benefício próprio. Ele sabia que o ponto fraco na personalidade do mouro era justamente o ciúme e investe com todas as armas que ele possui.

O que chama a atenção foi o cinismo de Iago, típico daqueles personagens que fingem ser amigos, mas são esfaqueados pelas costas. Iago era o homem que Otelo mais confiava e jamais poderia imaginar ser traído dessa forma. Além disso, a maneira com que Otelo se vinga ao descobrir a possível traição de sua amada é brutal, revelando seu caráter extremamente violento.

Desdêmona também é uma personagem de certa forma intrigante. É apaixonada por Otelo, é a esposa fiel, casta e passiva que “abandona” seu pai Brabâncio para casar com Otelo, o mouro de Veneza. Ela precisa lidar com ofensas e críticas de todos os lados por ter se casado com um estrangeiro, que possuía “traços animalescos”. Ela aparenta ser ingênua em diversos momentos, mas, mesmo sofrendo as consequências por uma traição que não cometeu, não desiste de Otelo.

Outro personagem que merece atenção é Cássio, tenente, e alvo escolhido por Iago como pivô da separação de Otelo e Desdêmona. Ele se preocupa muito com  a sua reputação, ou seja, o que mais importa para ele é a imagem que a sociedade pode ter.

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Por Que Iago Odiava Otelo?

O ponto central da nossa resenha de Otelo é a traição e a inveja. A história se inicia com Iago, alferes de Otelo, tramando com Rodrigo uma forma de contar a Brabâncio, rico senador de Veneza, que sua filha, a gentil Desdêmona, tinha se casado com Otelo. Iago queria vingar-se do general Otelo porque ele promoveu Cássio, jovem soldado florentino e grande intermediário nas relações entre Otelo e Desdêmona, ao posto de tenente.

Esse ato deixou Iago muito ofendido, uma vez que acreditava que as promoções deveriam ser obtidas “pelos velhos meios em que herdava sempre o segundo o posto do primeiro” e não por amizades.

Brabâncio, que deixara a filha livre para escolher o marido que mais a agradasse, acreditava que ela escolheria, para seu cônjuge, um homem da classe senatorial ou de semelhante poder na sociedade.

Ao tomar ciência que sua filha havia fugido para se casar com o Mouro, foi à procura de Otelo matá-lo. No momento em que se encontram, chegou um comunicado do Doge de Veneza, convocando-os para uma reunião de caráter urgente no senado.

O Julgamento

Ao se casar com Desdêmona na calada da noite, Otelo enfrenta um julgamento perante o Duque e os senadores, entre os quais Brabâncio, pai de Desdêmona, que o acusa de bruxaria contra a sua filha.

Durante a reunião, Brabâncio, sem provas, acusou o Mouro de ter induzido Desdêmona a casar-se com ele por meio de bruxarias. Brabâncio não compreende a transformação da filha obediente e honrada em uma jovem que toma decisões por conta própria e escolhe fugir para se unir a Otelo. Na visão de Brabâncio, este relacionamento seria inaceitável, pois Otelo era forasteiro, negro e somente um instrumento que Veneza usa para garantir sua beleza e cultura, através das guerras e de sangue.

Otelo, que era general do reino de Veneza e gozava da estima e da confiança do Estado por ser leal, muito corajoso e ter atitudes nobres, fez, em sua defesa, um simples relato da sua história de amor que foi confirmado pela própria Desdêmona. 

Otelo contou aos presentes como conquistou sua esposa. O personagem relata que a partir da curiosidade de Desdêmona sobre suas aventuras, desventuras, sofrimentos, começou a ter uma afeição por ela e por sua preocupação. E pede a Desdêmona que provê ao seu pai e aos outros que é verídico o seu sentimento e que não houve nenhum feitiço.

Por isso, e por ser o único capaz de conduzir um exército no contra-ataque a uma esquadra turca que dirigia-se à ilha de Chipre, Otelo foi inocentado e o casal seguiu para Chipre, em barcos separados, na manhã seguinte.

A Viagem Para Chipre

Continuamos a nossa resenha de Otelo rumo a Chipre. Durante a viagem uma tempestade separou as embarcações e, devido a isso, Desdêmona chegou primeiro à ilha. Algum tempo depois, Otelo desembarca com a novidade que a guerra tinha acabado porque a esquadra turca fora destruída pela fúria das águas. No entanto, o que o Mouro não sabia é que na ilha ele enfrentaria um inimigo mais fatal do que os turcos.

Em Chipre, Iago que odiava Otelo e Cássio, começou a semear a sementes do mal, ou seja, concebeu um terrível plano de vingança que tinha como objetivo arruinar seus inimigos. Hábil e profundo conhecedor da natureza humana, Iago sabia que, de todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável.

Ele sabia que Cássio, entre os amigos de Otelo, era o que mais possuía a sua confiança. Sabia também que devido a sua beleza e eloquência, qualidades que agradam às mulheres, ele era exatamente o tipo de homem capaz de despertar o ciúme de um homem de idade avançada, como era Otelo, casado com uma jovem e bela mulher. Por isso, começou a realizar seu plano.

Sob pretexto de lealdade e estima ao general, Iago induziu Cássio, responsável por manter a ordem e a paz, a se embriagar e envolver-se em uma briga com Rodrigo, durante uma festa em que os habitantes da ilha ofereceram a Otelo. Quando o mouro soube do acontecido, destituiu Cássio de seu posto.

Nessa mesma noite, Iago começou a jogar Cássio contra Otelo. Ele falava, dissimulando um certo repúdio à atitude do general, que a sua decisão tinha sido muito dura e que Cássio deveria pedir a Desdêmona que convencesse Otelo a devolver-lhe o posto de tenente. Cássio, abalado emocionalmente, não se deu conta do plano traçado por Iago e aceitou a sugestão.

Dando continuidade a seu plano, Iago insinuou a Otelo que Cássio e sua esposa poderiam estar tendo um caso. Esse plano foi tão bem traçado que Otelo começou a desconfiar de Desdêmona.

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Que Provas Iago Apresentou a Otelo Para Confirmar a Suposta Traição de Desdêmona?

Continuando nossa resenha de Otelo chegando a Iago, que fica sabendo que o mouro havia presenteado sua mulher com um velho lenço de linho herdado de sua mãe. Otelo acreditava que o lenço era encantado e, enquanto Desdêmona o possuísse, a felicidade do casal estaria garantida. Sabendo disso e após ter encontrado o lenço que Desdêmona perdera, Iago disse a Otelo que sua mulher havia presenteado o seu amante com ele.

Otelo, já enciumado, pergunta a sua esposa sobre o lenço e ela, ignorando que o lenço estava com Iago, não soube explicar o que aconteceu com ele. Nesse meio tempo, Iago colocou o lenço dentro do quarto de Cássio para que ele o encontrasse.

Depois, Iago fez com que Otelo se escondesse e ouvisse uma conversa sua com Cássio. Eles falaram sobre Bianca, amante de Cássio, mas como Otelo que só ouviu partes da conversa, ficou com a impressão de que eles estavam falando a respeito de Desdêmona. Um pouco depois Bianca chegou e Cássio deu a ela o lenço que encontrara em seu quarto para que ela providenciasse uma cópia.

Vale lembrar que o lenço, era, como todo lenço feminino, fino e delicado, isso significa que quando Otelo o deu Desdêmona, ele não a presenteou com um simples lenço, na verdade o que ele deu à ela foi tudo o que há de mais fino e delicado existente em sua pessoa. Otelo ficou fora de si ao imaginar que Desdêmona havia desprezado tudo isso dando o lenço a um outro homem.

As Consequências do Plano de Iago

As consequências disso foram terríveis: primeiro Iago, jurando lealdade a seu general, disse que, para vingá-lo, mataria Cássio, mas sua real intenção era matar Rodrigo e Cássio simultaneamente porque eles poderiam estragar seus planos. No entanto, isso não ocorreu conforme suas intenções, Rodrigo morreu e Cássio ficou apenas ferido.

Depois Otelo, totalmente descontrolado, foi à procura de sua esposa acreditando que ela o havia traído e matou-a em seu quarto.

Após isso, Emília, esposa de Iago, sabendo que sua senhora fora assassinada revelou a Otelo, Ludovico (parente de Brabâncio) e Montano (governador de Chipre antes de Otelo) que tudo isso foi tramado por seu marido e que Desdêmona jamais fora infiel. Iago matou Emília e fugiu, mas logo foi capturado. 

Qual foi a reação de Otelo ao constatar seu engano?

Otelo, desesperado por saber que matara sua amada esposa injustamente, apunhalou-se, caindo sobre o corpo de sua mulher e morreu beijando a quem tanto amara.

Como Acontece o Final da Obra de Otelo?

Cássio passou a ocupar o lugar de Otelo, Iago foi entregue às autoridades para ser julgado e Graciano, uma vez que seu irmão Brabâncio morrera, ficou com os bens do mouro.

O final é trágico, mas é uma história que consegue apresentar personagens tão diferentes e complexos em poucas páginas, sendo impulsionados pelos sentimentos que os domina, sejam eles bons ou ruins.

Qual é a Grande Mensagem Que Otelo Deixa Para Nós?

Acompanhamos em nossa resenha de Otelo que durante o livro é possível ver a transição de um personagem nobre, honrado, digno a um homem cego pelos ciúmes, violento, preconceituoso, perturbado. É interessante o modo como Shakespeare aborda o ciúme. Quem é ciumento e possessivo geralmente acredita em qualquer mentira bem elaborada, tanto que Iago nem precisa de grande esforço para ludibriar o general. Com suas falas venenosas, aos poucos, Iago finge que “sabe de algo, mas não pode contar” e deixa a entender (após muita insistência de Otelo) que Desdêmona e Cássio estão saindo às escondidas. 

A tragédia sendo como o nome diz, perpassa o caminho do homem para o seu declínio. Desnuda a partir do seu interior ações perversas, discorridas de pensamentos baseados em suposições e não em fatos, acarretando ao drama final o grande clímax pertencente à obra.

Quando você começa a ler esse tipo de clássico, é inevitável enxergar as referências em boa parte das séries e filmes atuais. Iago é aquele vilão persuasivo e inteligente que engana a todos ao se passar por um homem íntegro, obediente e conselheiro.

A história tem como base Iago plantando na cabeça de Otelo o mal, alimentando a imaginação de um homem que era bem visto na sociedade, digno de honra, protetor de Veneza, contra sua esposa Desdêmona, fazendo-o crer que ela o trai com seu amigo Cássio. Iago instila veneno por onde passa, manipula a todos para que ajam de acordo com seus interesses. Iago é a personificação da ganância. 

Otelo se torna outra pessoa, deixa ser consumido pelo ciúmes e orgulho, perde seus princípios e por medo de perder a pessoa amada para outro faz coisas horríveis.

Quem é o Vilão de Otelo?

A peça começa a desenhar um conflito com um dos antagonistas mais cruéis e maléficos da Literatura Mundial, Iago. Um personagem completo, com uma sede de inveja que assusta.

O vilão utiliza as fraquezas de Otelo (como sua baixa autoestima) e cria cenas visuais na cabeça do mouro. Otelo não suporta imaginar sua esposa fazendo amor com Cássio, ferindo seu orgulho masculino. Nada é pior para os homens de cargo alto no exército do que serem traídos. E é justamente essa a arma de Iago.

Nota-se em nossa resenha de otelo, portanto, que a capacidade de Iago de iludir, seduzir, aproximar-se de suas vítimas, infectá-las com suas mentiras e com sua linguagem grosseira e obscena, é testemunho de sua maldade excepcional. Não consigo tampouco pensar em algo em que o vilão seja tão completamente triunfante: tudo o que promete fazer, Iago cumpre – e entre suas metas incluo sua autodestruição. Iago induz Otelo a acreditar que Desdêmona não o ama, tendo em vista a diferença de classes, a sua cor e até mesmo o seu papel de mero instrumento de batalha. 

Conclusão da Resenha de Otelo

Concluímos nossa resenha de Otelo afirmando que a trama em si é muito envolvente, desenvolvida por ambição, amor, ódio e vingança, situada na ilha de Chipre, no momento que era dominada pelo Império Veneziano, durante os séculos XV e XVI.

Otelo é aquela obra que você precisa ler com calma, mas que vai abrir portas para a compreensão de arquétipos. É importante fazer uma análise aprofundada das personagens e relacioná-las com o contexto histórico da época.

Queria ressaltar aqui uma cena em que Emília (esposa de Iago e aia de Desdêmona) faz um discurso de força feminista para a esposa do mouro. Ela diz que as mulheres também “têm sentimentos e sentem prazer da mesma forma que o sexo masculino”. Enquanto conversa com a esposa de Otelo, Emília praticamente a incentiva a parar de ser submissa e não aceitar todas as ordens do marido. Claro que isso é apenas uma semente do que seria realmente o movimento feminista, mas é encantador ler isso em uma obra tão antiga.

Por fim, é importante dizer que esse livro é capaz de provar como o ser humano pode ser fortemente influenciado se possui a cabeça fraca, sem opinião própria e conhecimento. Jovens/namorados/maridos fazem mal às suas respectivas por simples ciúmes, por se acharem donos de seus amores, capazes até de cometer tragédias. Esses detalhes soam tão familiares não? Em 1603 Shakespeare consegue descrever claramente o nosso tempo, tempos bem difíceis no caso, que na minha opinião, são atos impregnados na cabeça e cultura de muitas pessoas.

Otelo serve para abrir nossos olhos, nos ensinar a pensarmos sozinhos, a não deixar sentimentos ruins nos dominarem e serem capazes de cometer atrocidades.

Ao chamarmos a peça Otelo de tragédia, pode-se verificar que a ordem foi restaurada no final, mas a restauração neste caso é inútil, pois do que adianta a punição de Iago, se Desdêmona já morreu, ou seja, ter a punição do malvado, do injusto é indiferente, já que os justos morreram.

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