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Memórias Póstumas de Brás Cubas (Resenha)

Neste artigo, você irá acompanhar uma resenha de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis e publicado em 1881, é uma das obras mais importantes da literatura brasileira e, sem dúvida, um dos desafios mais intrigantes que já enfrentei como leitor. Através de sua narrativa inovadora e de uma abordagem irônica da sociedade da época, Machado nos oferece um retrato profundo da vida e das contradições humanas. 

Neste artigo, explorarei os motivos pelos quais considero essa obra como a mais difícil que já li, abordando seu enredo, o contexto histórico, os personagens principais e as complexidades de sua linguagem e crítica social.

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Um Pequeno Resumo da Obra

Memórias Póstumas de Brás Cubas é narrado por Brás Cubas, um defunto que decide contar sua história a partir do além-túmulo. Desde a primeira frase da dedicatória, o tom irreverente e a estrutura não linear nos capturam: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”. A obra é uma reflexão sobre a vida de Brás, que, apesar de pertencer a uma família abastada, leva uma existência marcada pela mediocridade e pela frustração.

Brás Cubas é um personagem que, em sua busca por um sentido na vida, se vê envolvido em relacionamentos que não o satisfazem, como o amor platônico por Virgília, casada com outro homem, e a amizade com Quincas Borba, um filósofo excêntrico que desenvolve a doutrina do “Humanitismo”. A narrativa flui entre lembranças e reflexões, revelando a profunda insatisfação do protagonista com sua vida e a hipocrisia da sociedade do século XIX.

Contexto Histórico

A obra de Machado de Assis está inserida em um contexto histórico de transição no Brasil. No final do século XIX, o país estava passando por profundas mudanças sociais, políticas e econômicas. O período é marcado pela abolição da escravidão (1888) e pela Proclamação da República (1889), eventos que moldaram a sociedade brasileira e suas relações de classe.

Machado, como parte da elite intelectual da época, traz à tona as tensões sociais e as contradições da classe média emergente. Através de Brás Cubas, ele critica não apenas a hipocrisia da aristocracia, mas também a mediocridade e a falta de ambição da nova classe média que surgia. É um retrato da busca por identidade em um Brasil em transformação.

O Emplasto

Um dos elementos mais simbólicos da obra é o emplasto, que Brás Cubas usa em sua tentativa de se curar de sua inércia e de sua vida insatisfatória. O emplasto representa uma solução superficial para problemas profundos. Isso reflete a busca de Brás por algo que o faça sentir-se vivo, mas que, na verdade, não traz a mudança desejada.

O conceito do emplasto é apresentado de forma irônica e simbólica no livro. O próprio Brás Cubas reconhece que sua motivação para criar o remédio não era exatamente altruísta, mas sim uma tentativa de alcançar imortalidade e reconhecimento. O objetivo não era aliviar o sofrimento humano, mas sim glorificar a própria vaidade de Brás Cubas.

O emplasto nunca chegou a ser criado de fato, pois Brás Cubas morre antes de concretizar sua ideia, tornando-o uma metáfora para a inutilidade de muitas ambições humanas. Esse elemento reforça a visão cínica e pessimista do personagem e do próprio Machado de Assis sobre a vida, a morte e as vaidades humanas.

Paixões de Cubas

Os amores de Brás também são centrais na narrativa. Seu amor por Virgília é um dos pontos altos da obra, representando um amor não correspondido e cheio de sacrifícios. Virgília é casada, mas isso não o impede de ter relações com ela. Essa relação revela a dualidade da vida amorosa do protagonista: por um lado, a idealização do amor; por outro, a realidade da traição e da frustração.

A Vida Medíocre de Brás Cubas

A vida de Brás Cubas é marcada pela mediocridade. Ele não se destaca em nenhuma área, não possui aspirações significativas e vive à sombra de sua família e da sociedade. Assim, mesmo sendo um membro da elite, sua vida é um reflexo da falta de propósito e de sentido. Ao narrar suas experiências, Machado de Assis revela a fragilidade dos valores que sustentam a sociedade da época, expondo a superficialidade das relações e das conquistas sociais.

Quincas Borba

Quincas Borba é um personagem peculiar, que aparece em Memórias Póstumas de Brás Cubas como um amigo de Brás Cubas e ganha destaque no romance Quincas Borba. Ele é um ex-rico que acaba ficando louco, e durante sua loucura, desenvolve uma filosofia chamada “Humanitismo”. Embora inicialmente pareça apenas uma figura excêntrica, Quincas Borba se torna um veículo para as críticas sociais e filosóficas de Machado de Assis.

No contexto de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e suas ideias são mostrados de forma cômica, contribuindo para a crítica machadiana à sociedade e às filosofias “sérias”.

O Humanitismo

O Humanitismo é uma filosofia fictícia e absurda criada por Quincas Borba. Ela é apresentada como uma paródia das filosofias positivistas e deterministas que estavam em voga no século XIX.

A essência do Humanitismo é a ideia de que a luta pela sobrevivência e o domínio dos mais fortes sobre os mais fracos é natural e inevitável. A frase “ao vencedor, as batatas” ilustra esse conceito: portanto, aqueles que triunfam em qualquer tipo de conflito, seja ele moral, social ou físico, têm o direito aos “frutos” da vitória. Assim, os perdedores são descartados ou subordinados.

Embora o Humanitismo pareça parodiar o darwinismo social, ele é apresentado de maneira tão absurda e cínica que a verdadeira intenção de Machado de Assis é criticar tanto as filosofias deterministas quanto a maneira como as sociedades humanas racionalizam a crueldade e o egoísmo. A filosofia, no final das contas, serve para satirizar a hipocrisia moral e social, e Quincas Borba é o porta-voz dessa sátira.

Relação entre Quincas Borba e Brás Cubas

Brás Cubas e Quincas Borba compartilham um certo grau de pessimismo e egoísmo em suas visões de mundo. Enquanto Brás Cubas é mais pragmático e centrado em si mesmo, Quincas Borba usa o Humanitismo como um escudo filosófico para justificar a indiferença ao sofrimento alheio e o triunfo do mais forte. Ambos os personagens servem para exemplificar a ironia e o pessimismo machadiano sobre a natureza humana e a sociedade.

Através deles, Machado de Assis critica a sociedade de sua época e a condição humana em geral, utilizando o humor e a ironia para desmascarar a futilidade das ambições e a crueldade disfarçada de “filosofia”.

Dificuldades da Leitura

brás cubas

Embora Memórias Póstumas de Brás Cubas seja uma obra-prima, é também um desafio considerável para os leitores, e é isso que pegou muito para mim. Há diversos aspectos que tornam essa leitura bem difícil. 

Linguagem Culta e Antiga

A linguagem utilizada por Machado de Assis é rica e sofisticada, refletindo o estilo literário da época. O autor faz uso de expressões e construções que podem parecer arcaicas para o leitor contemporâneo, o que pode dificultar a compreensão do texto. Além disso, a profundidade do vocabulário exige um certo nível de familiaridade com a literatura e a cultura do século XIX.

Texto Altamente Irônico

A ironia permeia toda a obra e, muitas vezes, é sutil. Através de um narrador que está além da morte, Machado oferece uma crítica mordaz à sociedade, e o leitor deve estar atento para captar as nuances e os subtextos.

Mensagens Subliminares

As mensagens subliminares contidas na obra são outro ponto de dificuldade. Machado de Assis não apresenta suas críticas de forma direta; ao invés disso, ele insere reflexões e observações que exigem uma leitura atenta. O leitor deve se esforçar para interpretar as entrelinhas e entender as críticas sociais, políticas e morais que permeiam a narrativa.

Crítica Social Forte

Por último, a crítica social em Memórias Póstumas de Brás Cubas é contundente e, muitas vezes, desconcertante. O autor não hesita em expor as fraquezas da sociedade, e a realidade que ele retrata pode ser desconfortável. A maneira como ele aborda questões como hipocrisia, ambição e a busca por status social pode gerar uma resistência no ritmo de leitura.

Conclusão

Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra complexa que, ao mesmo tempo em que desafia o leitor, oferece uma rica análise da condição humana. Através de sua linguagem culta, ironia mordaz e críticas sociais, Machado de Assis nos força a confrontar a mediocridade e a superficialidade da vida.

As dificuldades que encontrei ao longo da leitura são parte do que torna essa obra tão valiosa. Cada reflexão, cada crítica e cada ironia se transformam em uma oportunidade para explorar não apenas a vida de Brás Cubas, mas também a minha própria condição como leitor e ser humano. Em suma, a experiência de ler Memórias Póstumas de Brás Cubas é um convite a uma profunda introspecção e a uma crítica à sociedade que, ainda hoje, ecoa nas páginas da literatura.

Avaliação:

Detalhes da edição brasileira:

  • Título: Memórias Póstumas de Brás Cubas
  • Autor: Machado de Assis
  • Editora: Excelsior
  • Data da publicação: 07 de abril de 2022
  • Número de páginas: 336 páginas

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1 comentário em “Memórias Póstumas de Brás Cubas (Resenha)”

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