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A Camareira: A Prosa de Nita Prose [Resenha]

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Hoje você vai conhecer nossa resenha de A Camareira, um thriller/mistério no qual Molly Gray, uma camareira obcecada por limpeza e organização do luxuoso Hotel Regency Grand, tem sua vida tirada de ordem após encontrar o corpo do milionário Sr. Black sem vida em sua suíte, sendo lançada em uma trama suja que exigirá que ela lide com seus próprios traumas e limitações. 

A autora canadense Nita Prose já é uma veterana no ramo editorial, e, mesmo esse sendo seu primeiro romance publicado, ele conquistou o público, levando o prêmio de melhor livro da plataforma Goodreads Choice Awards, em 2022, na categoria mistério e thriller. Há também uma adaptação para os cinemas, estrelando a talentosíssima Florence Pugh no papel principal, prevista, mas ainda sem data de estreia. 

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Molly, a Camareira

A narrativa é toda contada em primeira pessoa do ponto de vista da personagem Molly, a camareira que dá título ao livro. Inicialmente, Molly apresenta de forma bem direta e detalhada seu trabalho e sua rotina, ambientando o leitor tanto a sua própria pessoa quanto ao local onde ocorrerá a maior parte da história. 

Com o avançar da narrativa percebemos que Molly possui dificuldades em interpretar e lidar com as pessoas, o que geralmente a faz ter reações diferentes das esperadas pelas pessoas. A autora não deixa claro se a personagem tem algum transtorno, como o do espectro autista ou até mesmo obsessivo compulsivo, mas consegue construir o fluxo de pensamento da personagem de forma com que o leitor entenda como aquela reação, por mais fora comum que seja, faz sentido para ela. 

Nesse fluxo de consciência, algumas passagens vão e voltam no tempo, mostrando mais a história da personagem, como também acabam por torná-la uma narradora não tão confiável assim. Ela mesmo afirma no início da história que sua mente às vezes se confunde em pequenos detalhes com a rotina do dia a dia. Sua obsessão por limpeza e organização, além de um costume adquirido de sua avó, parece uma tentativa de clarear sua própria mente em uma ação de fora para dentro. 

Estabelecida assim, quando ela encontra o corpo de um hóspede famoso do hotel, não demora para que a polícia, sem tato nenhum no trato de pessoas que não se enquadram no padrão, suspeite dela por suas reações, o que é corroborado pelos trabalhadores do hotel que também não tem a menor estima pela moça. São essas relações que fazem o leitor se conectar com a moça, criando até mesmo um sentimento de proteção ao ver tantas pessoas sendo rude e se aproveitando dela de maneira tão vil. 

a camareira

O Hotel Regency Grand, Seus Colaboradores e Seus Ilustres Hóspedes

Continuamos a nossa resenha de A Camareira falando mais sobre o Hotel Regency Grand, conhecido por uma grandiosidade luxuosa e sendo o lugar onde Molly se sente em casa, e onde ela vive a ostentação sem poder tocá-la. Como ela é a narradora, inicialmente, o hotel passa essa aura de perfeição e excelência. Mas com o passar do tempo, o leitor nota que debaixo dessa aparente perfeição muita sujeira rola por lá. 

Diferentemente da estrutura física, que faz com que se sinta confortável justamente por poder controlá-la, os funcionários do hotel são os pontos que a fazem mal. A maioria deles tira sarro das dificuldades da moça, tentando se aproveitar ao máximo, como é o caso da sua chefe direta, Cheryl; ou então a trata com condescendência, sem se importar em ser cruel quando precisa, como Snow, o gerente. O único que realmente gosta e se importa com a moça é o Sr. Preston, que era amigo da falecida avó. 

Dois personagens se destacam dentre os funcionários do hotel: o atraente Rodney e o amigo Juan Manuel. Rodney é a paixão platônica de Molly, as interações entre os dois são as que mais fazem o leitor querer protegê-la e ter um pouco de raiva, uma vez que ele é um canalha de primeira, mas, por estar apaixonada, ela acaba interpretando os sinais de formas totalmente equivocadas. 

Quanto a Juan Manuel, ele é um imigrante mexicano que trabalha na cozinha do hotel, não dá para ser mais estereotipado que isso, mas piora. Nesse ponto, toda a sutileza da construção que Prose desenvolveu em Molly, parece ter acabado, porque Juan Manuel é um personagem mal escrito. Não que ele seja ruim, ele é um “bom partido”, como a própria Molly diz a certa altura, mas a autora usa o subtexto da imigração para criar um paralelo entre ele e Molly se apoiando em um único traço da personalidade dele, a sua nacionalidade. E, embora, ele seja um personagem que gosta de verdade de Molly, acaba sendo o elo fraco da narrativa. 

Os Black completam as figuras do Hotel Regency Grand. O Sr. Black é um milionário mais velho e trata Molly com mais que a indiferença dirigida aos funcionários, muitas vezes chegando a ser violento com ela; ele é quem inicia trama ao ser encontrado morto no quarto. Já a sua mulher, Giselle Black, é uma alpinista social mais nova que o marido. Ela acaba desenvolvendo uma espécie de amizade com Molly que intriga o leitor sobre as suas verdadeiras intenções em se aproximar de uma simples camareira. 

Todos esses personagens apresentam uma relevância na história, bem como na vida de Molly. 

A Vida Pessoal e o Luto

A vida pessoal de Molly se resumia basicamente a sua avó, uma senhora que passou o trabalho de organização e limpeza para neta. Era dela quem vinha todo filtro sobre o mundo de Molly e as alegrias também. Foi dela também que Molly pegou o gosto pela limpeza ao ser uma coisa instituída na sua relação familiar como um afeto, uma maneira de cuidar. 

E tudo isso acabou com a morte da senhora, o que resultou numa lacuna na vida de Molly, na qual nem toda limpeza do mundo conseguia preencher. E por mais que ela tentasse limpar a sua mente das lembranças da sua avó, o luto continuava lá, porque ela tinha perdido a pessoal que a ajudava a encarar o mundo e suas próprias reações a ele. 

Conclusão da Resenha de A Camareira 

Concluímos a nossa resenha de A Camareira ressaltando que a história criada por Nita Prose, embora tenha um mistério como propulsor, também é um estudo de personagem eficiente, que coloca o leitor em confronto com uma mente que foge do ordinário ao provocar sentimentos mistos de compaixão e raiva. 

A narrativa mostra como as pessoas podem ser cruéis com pessoas que fogem do padrão, assim como a invisibilidade imposta aos trabalhadores mais trabalhadores pode esconder tantas outras crueldades no dia a dia que passam despercebidas. E, embora com um ponto fraco, Nita Prose sabe escrever uma prosa com uma sutileza desafiante.

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2 comentários em “A Camareira: A Prosa de Nita Prose [Resenha]”

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