Isto não é um sonho, isto está acontecendo. Uma obra de cinquenta e cinco anos ainda é capaz de influenciar gerações e debater diversos temas como patriarcado, maternidade e religião. Por ser muito atual, torna-se essencial fazer uma resenha de O Bebê de Rosemary. Mais do que um livro de terror, a obra do escritor americano, Ira Levin, traz personalidade própria, personagens emblemáticos e situações esquisitas, mas trajadas de comuns.
Rosemary Woodhouse, juntamente com seu marido Guy, estão em busca de um apartamento na grande Nova Iorque. Depois de muita pesquisa, eles encontram o prédio, com estilo vitoriano, em Bramford. Muito conhecido por ter apartamentos espaçosos, também traz um ar misterioso e, porque não dizer, macabro.
Certos acontecimentos ocorreram, nos últimos, como mortes acidentais, mudanças repentinas e até ameaças de demolição. Mas agora, o prédio parece ser o desejo de muitos, principalmente dos amigos do recém casal.
>>> Está gostando da nossa resenha de O Bebê de Rosemary? Esse texto foi realizado após um convite do site para o IG literário @blogleituranna, criado pela autora Anna Luíza Tenório.
A Grande Reviravolta
Tudo parecia perfeitamente completo. Guy era um ator de pequenas participações, mas amoroso e presente para sua esposa. Quanto a Rosemary, parecia que tudo era um sonho no qual só faltava um filho – ou pelo menos dois – para tudo estar completo de verdade. Até mesmo seus vizinhos pareciam amorosos e receptivos demais, a exemplo dos Castevet.
Em certo dia, na lavanderia do prédio, Rosemary conhece Terry. Sendo muito parecidas e bem-humoradas, logo fazem amizade. A duas parecem compartilhar das mesmas alegrias e frustrações superficiais do dia a dia. Terry foi resgatada das ruas, pelos Castevet, que a encontraram em uma situação precária. Rose, se compadecendo e ainda criando estima pelos vizinhos, sente que Terry e ela serão grandes amigas.
“Só quando se fica mais velho é que se percebe quão raros e difíceis são os atos de bondade neste mundo em que vivemos.” – Minnie Castevet.
Contudo, depois de uma noite romântica com Guy, ao retornarem ao “Bram”, o casal viu vários policiais na porta do prédio e um extenso lençol branco cobrindo algo na calçada. Terry, aparentemente havia se jogado das extensas janelas do apartamento dos Castevet e morrido. Sem acreditar, Rose fica devastada, sendo amparada por Guy.
Os Vizinhos
Minnie e Roman são vizinhos de Rosemary e Guy. Já idosos, eles se preocupam e sempre parecem estar com alguma novidade para o casal. Depois da morte de Terry, eles promovem um jantar em casa, com farta comida e bebida. Contudo, depois desse jantar inocente, começam a acontecer diversas situações inusitadas.
Em uma certa noite, a senhora Castevets oferece a senhorita Woodhouse um copo de mousse de chocolate. Logo depois disso, a moça é tomada por muito sono, além da experiência de ter várias alucinações, que apresentavam cenas eróticas macabras.
No dia seguinte, ela acorda grávida, o que era um desejo da família. No entanto, eles ainda não sabem o que está por vir desta gestação…
Contexto da Obra
É importante ressaltar em uma resenha de O Bebê de Rosemary que a obra é narrado em terceira pessoa – o que dá sempre a perspectiva de o leitor estar vivenciando a história. Além disso, o livro é conhecido como soft horror, ou seja, um terror leve, que não traz grandes momentos de horror, mas sim de uma grande crítica social.
Ambientado na década de sessenta, em que a sociedade americana passava por grande divisão social e econômica, em muitos momentos da trama podemos perceber a crítica leve e sarcástica aos modelos desejados pela sociedade. A busca incansável de Rosemary em ter filhos para suprir uma ausência familiar e o abandono afetivo e matrimonial que Guy persiste em fazer durante todo livro são exemplos marcantes da trama.
“Ela cultiva ervas e especiarias, e quando elas crescem demais, arranca e joga pela janela.” – Rosemary.
Crítica Social: Machismo e Misoginia
Além disso, em muitos momentos, podemos observar o quanto a falta de informação sobre sexualidade, direitos e garantias afetam o dia a dia de Rosemary. Sem dúvidas, um dos momentos mais marcantes da história é a prática do estupro marital, ou também conhecido como violação conjugal, o qual consiste no ato de manter uma relação sexual com o cônjuge sem consentimento.
Em muitos momentos, essa prática abusiva não fica limitada somente à prática sexual, também podendo ocorrer a agressão física. Particularmente, a cena em si traz uma força questionadora muito intrínseca, mesmo depois de cinquenta e cinco anos de publicação da obra.
Outro ponto importante, é a rotina que todos, aparentemente, construíram para Rose, que não parece perceber ou se importar. É uma espécie de gaslighting (manipulação), o que ainda acontece com muitas mulheres que até mesmo nos dias atuais. Quando Rosemary toma conhecimento sobre o que está vivendo, ela trava uma verdadeira guerra para se libertar dessa realidade – tarefa essa que será difícil, principalmente ao tentar livrar seu bebê de toda essa situação.
A Gravidez
“Nenhuma gravidez jamais foi exatamente como as descritas nos livros. E não dê ouvidos às suas amigas. As experiências delas podem ter sido muito diferentes das suas e elas sempre acharão que as delas foram normais e que sua é anormal.” – Dr. Sapirstein.
E por falar no bebê, um grande sonho de Rose e Guy, todos os nove meses de gestação são verdadeiros desafios para ela. Além de ter que lidar com o abandono de seu marido – que estava mais preocupado com a carreira de ator, a qual subitamente alavancou graças a Roman Castevet –, sua saúde parece estar ficando pior a cada dia.
É a partir daí que podemos perceber a grande crítica ao modelo patriarcal e religioso da sociedade. Os momentos macabros da história são ambientados por criaturas sobrenaturais. Por exemplo, Rose passa por situações de sonhos bizarros com monstros, demônios e figuras religiosas marcantes. Em muitas dessas cenas, entendemos a real origem das dores e o aspecto doente que Rose apresenta ao longo da gravidez.
Conclusão
Sem dúvidas, o bebê de Rosemary não é somente uma história de terror. O autor Ira Levin tinha o intuito de trazer muito mais ao público, com um olhar diferente para a realidade social da época. Mesmo que existam capítulos que trazem situações totalmente diferentes do que vivemos hoje em dia, estamos diante de uma história que tem a capacidade de levantar muitas questões importantes. Além disso, a narrativa é direta e coesa, sem rodeios – o que me agradou bastante.
Uma história mística, com poucos personagens, mas todos emblemáticos e fascinantes, “o bebê de Rosemary” é sem dúvidas o clássico que todos nós temos que ter na estante.
Gostou da nosssa resenha de O Bebê de Rosemary? Veja também outros artigos do blog!
No post found!
Anna Luiza, muito boa resenha, grato pela sua generosidade de dividir conosco.
O prazer é todo meu!!