Fazer uma resenha de A Biblioteca da Meia-Noite é uma tarefa muito interessante, já que essa é uma das obras de ficção mais comentadas do último ano. Isso porque o livro atingiu um imenso hype nas redes sociais desde o seu lançamento em 2021, conquistando um público fiel, não apenas de leitores, mas também de críticos literários.
A obra é vencedora do prêmio Goodreads para “Melhor livro de ficção 2021”, finalista do British Book Awards para “Melhor Livro de Ficção”, e Matt Haig se tornou autor bestseller do The New York Times, Sunday Times e Amazon, vendendo mais de 1 milhão de exemplares do livro.
Em “A Biblioteca da Meia-Noite” somos apresentados a Nora Seed, que aos 35 anos está completamente arrependida das escolhas que fez para a sua vida. Ela vive se perguntando que vida poderia ter tido se tivesse feito escolhas diferentes. Em meio a uma sucessão de acontecimentos ruins, Nora se vê completamente sem propósito e decide que não quer mais viver e, então, no exato momento em que toma essa decisão definitiva ela vai parar na Biblioteca da Meia-Noite, um lugar onde o tempo não passa e onde ela terá a possibilidade de viver outras vidas.
Esta Resenha de A Biblioteca da Meia-Noite é uma parceria entre o blog Os Melhores Livros e o Ig Literário @recapitulos (perfil em que você também encontra conteúdos incríveis). Para receber esse e outros textos em primeira mão, você também pode acompanhar o blog no nosso canal no YouTube, canal do Telegram ou no nosso Instagram! Caso você goste desse conteúdo, poderá adquirir o livro através desse link para ajudar no crescimento do blog.
O autor: Quem é Matt Haig
Matt Haig é um autor inglês nascido em Sheffield. Ele se tornou um autor bestseller através de seus livros de não-ficção, que escreveu tendo sua própria vida como ponto de partida. O autor utiliza de sua própria depressão para transpor para a ficção a sua dor de forma leve, desenvolvendo teorias combinadas com ideias bastante originais, como no caso de “A Biblioteca da Meia-Noite”.
Suas outras obras incluem: Razões para continuar vivo, Observações sobre um planeta nervoso e seis romances para adultos, incluindo A possessão do Sr. Cave, Como parar o tempo, Os humanos, Os Radley e Sociedade dos pais mortos. Matt também escreve livros premiados para crianças e adolescentes, incluindo Floresta sombria e Um menino chamado Natal, que está sendo adaptado para o cinema.
Resenha de A Biblioteca da Meia-Noite
Nossa resenha de A Biblioteca da Meia-Noite inicia já com o prólogo do passado, em que Nora ainda é uma adolescente de 14 anos, sentada na biblioteca da escola jogando xadrez com a bibliotecária Sra. Elm. Elas estão tendo uma conversa profunda sobre tudo, pois afinal o que ela deveria ser da vida? Ela tinha tanto para viver e ao mesmo tempo a vida, ou melhor, o pai dela queria que ela tomasse uma decisão imediata. No meio dessa conversa ela recebe um telefonema que muda, enfim, o rumo de tudo.
Dezenove anos depois dessa conversa, aos 35 anos, Nora Seed é infeliz, após uma sucessão de decisões que ela considera errada. Ela não se tornou nada daquilo que realmente queria e no meio de uma sucessão de acontecimentos ruins decide, enfim, que não quer mais viver.
O autor antecede essa decisão de forma bastante peculiar com um tipo de contagem regressiva até o momento que a Nora toma a decisão final. A cada acontecimento ruim que faz ela se sentir sem propósito o tempo da contagem diminui até que a Nora enfim executa a sua decisão. Depois disso ela vai parar em uma biblioteca, onde as prateleiras são infinitas, onde é sempre meia-noite e onde a bibliotecária é a mesma da biblioteca da sua antiga escola, a Sra. Elm.
Afinal, quem é Nora Seed?
Nora Seed é uma sucessão de habilidades e vocações. Aos 14 anos era uma nadadora com potencial olímpico, mas também era uma ótima cantora e tocava piano como ninguém, além de compor diversas músicas, e além disso ela também amava filosofia, tendo como filósofo favorito Henry David Thoreau e também tinha um sonho bem distante de ser glaciologista. Não há como dizer que Nora Seed não tinha opções.
Porém, a vida é um grande labirinto de decisões que pode mudar o nosso destino, e foi exatamente isso que aconteceu com Nora. Suas decisões acabaram levando ela a um emprego ruim em uma loja de instrumentos, mesmo formada em filosofia e, até mesmo, ensinando piano por um valor razoável. Ou seja, uma vida sem grandes emoções, sem ter realizado sonhos e sem um grande propósito.
Ela vivia se perguntando o que teria acontecido se ela tivesse tomado nem que fosse uma decisão diferente, e após decidir que não queria mais viver e ido parar na Biblioteca da Meia-Noite, saber disso finalmente se tornou possível.
Entre a vida e a morte, existe uma biblioteca
Em algum lugar além dos limites do universo, existe uma biblioteca que fica no meio do caminho entre a vida e a morte. Nessa biblioteca o tempo não passa, lá é sempre meia-noite, nem um segundo a mais e nem um segundo a menos. Nessa biblioteca há infinitas prateleiras repletas de livros em diversos tons de verde, cada um deles representando uma vida, uma decisão diferente, um arrependimento, uma opção.
Quando Nora chega à biblioteca, ela é recebida pela bibliotecária, a Sra. Elm, a mesma de sua antiga escola. Lá ela fica sabendo que aquela biblioteca representa o seu escape para outras vidas e que todos aqueles livros são vidas que ela poderia estar vivendo se tivesse tomado uma decisão diferente.
É preciso saber que Nora neste momento não quer viver nem essa e nem outras vidas, porém seu inconsciente ainda não quer morrer, e enquanto esse inconsciente permanecer assim, a biblioteca continuará existindo e ela terá uma possibilidade.
Antes mesmo de ter direito a experimentar uma vida e quem sabe, viver nela se quiser, ela precisa passar pelo livro dos arrependimentos, um livro sufocante que tem dos piores aos mais bobos arrependimentos que ela teve na vida. Tendo, enfim, permissão de usar de suas opções de vidas, ela terá a possibilidade de diminuir seus arrependimentos e encontrar o que está procurando, é dessa forma que começa a viagem de Nora em busca de uma vida que ela queira viver.
As tentativas de encontrar a vida perfeita
Nora segue as intuições dos seus maiores arrependimentos para escolher uma vida que quer tentar viver. Mesmo que no início ela não queira viver, a curiosidade de saber o que teria acontecido caso ela tivesse tomado tal decisão acaba vencendo. É preciso dizer, aqui na nossa resenha de A Biblioteca da Meia-Noite, que Nora está muito machucada e desiludida com absolutamente tudo, então é compreensível que ela busque uma vida perfeita, mesmo que isso seja quase impossível. Suas primeiras tentativas são dolorosas. Ela percebe que mesmo que tivesse tomado a decisão de fazer algo que sempre martelou em sua cabeça estaria tão infeliz ou pior que em sua vida raiz, os sentimentos que ela tem passam para o leitor toda a sensação de tristeza, decepção e desesperança que ela sente.
Suas primeiras experiências duram muito pouco, às vezes menos de 30 minutos, ou menos de um dia, e sempre que ela se decepciona com essa vida ela volta para a biblioteca, às vezes ainda mais frustrada e com ainda mais certeza de que quer morrer. Ela experimenta a vida na qual ela teria se casado com o ex noivo, outra que teria sido uma campeã olímpica de natação, uma outra em que teria ido para a Austrália com a amiga Izzie, a que teria se tornado glaciologista e, enfim, a vida que ela seria uma cantora famosa. Porém há sempre um fator comum nessas vidas que não é suficiente, a depressão de saber que estava vivendo os sonhos de outras pessoas e não os seus e no fim há sempre algo que a puxa de volta para a biblioteca, uma grande decepção consigo mesma ou com a vida que ela está.
Em uma dessas viagens específicas, Nora passa por uma experiência que muda completamente a sua visão de vida, inclusive o fato de que ela, enfim, não queria morrer. Finalmente ela queria encontrar um lugar para ficar e criar as suas raízes, um lugar que te desse motivos para querer viver, do jeito que aquela última experiência (que ainda não era a vida certa) tinha lhe dado. Nora percebeu que estava vivendo as expectativas de outras pessoas, e por isso nunca teve realmente um motivo para dar valor ao fato de estar viva, de ter seu coração batendo no peito.
Nora sempre quis algo grande, algo que fosse deixar a sua marca no mundo, mas nada disso que está em seus grandes arrependimentos foi um sonho ou um querer exclusivamente dela, sempre havia um parte que era pra agradar outras pessoas e quando ela se dá conta disso é que enfim a experiência dela muda na biblioteca da meia-noite.
As muitas vidas de Nora Seed
Após a última grande decepção, Nora volta para a biblioteca novamente, em meio a um surto de que não queria mais vidas, porém, esse pequeno desequilíbrio em seu querer, quase causa a destruição da biblioteca. Como ela não estava mais tão pronta assim para morrer, tem uma conversa reflexiva com a Sra. Elm, e percebe que uma boa vida nem sempre está recheada de coisas glamourosas e grandiosas, que é necessário dar valor as pequenas coisas, não apenas a marca que quer deixar no mundo, mas sim, a marca que deixamos nas pessoas mais próximas, que estão ao nosso redor.
Nora percebe que ela precisa explorar as possibilidades para além de suas ambições de infância, para coisas que ela jamais pensou, e acaba se tornando uma viajante, transitando pelas vidas experimentando as várias facetas de Noras que ela poderia ser, cada vida que ela poderia viver, até enfim encontrar fora de sua bolha algo que ela realmente queria para si. Mas as viagens um dia cansam, pois não eram suas vidas e ela queria ter um lugar que se sentisse em casa. É necessário ter onde pousar e chega um momento que ela cansa de passear pela vida de outras pessoas, tomar a vida de suas variantes e não ter onde manter as suas raízes.
É nessa linha de pensamento que Nora se lembra de mais uma possibilidade que ela havia deixado passar e que agora ela precisava experimentar.
A vida perfeita
A última tentativa de Nora Seed de encontrar a vida perfeita se deu através de uma escolha simples, uma decisão que ela não tomou e que na época não deu muita importância, então ela resolve viver essa vida. Nesse momento ela decide viver com vontade, passar pelas experiências que aquela vida tinha a lhe oferecer, por mais desafiador que fosse, pois aquela vida era perfeita. Apesar de nunca ter sido que Nora sonhou, fosse o que ela queria nesse momento, paz, sossego e estabilidade emocional, era a primeira vida em que Nora Seed não tomava antidepressivos, era a primeira vida que ela não tinha um histórico de saúde mental abalada e isso era um verdadeiro sonho.
Ela já havia entendido no entanto que uma vida não podia ser livre de coisas ruins, que era preciso passar por coisas desagradáveis para dar valor às coisas boas, mas Nora ainda queria uma vida em que as coisas boas fossem maioria. Essa foi a vida que Nora havia escolhido, as coisas estavam dando certo e ela estava se sentindo cada vez mais ligada a essa vida e as pessoas que havia nela, porém assim como nas outras experiências, nessa ela também aprendeu uma coisa importante: ela não era dona daquela vida, por mais que tentasse vive-la ela jamais deixaria de ser a Nora de sua vida raiz, ela retirava o livro da biblioteca, mas não era de fato dona dele, por mais que a biblioteca fosse sua.
Nora começou a se dar conta de algo que antes da biblioteca da meia-noite nunca tinha percebido, por mais sem propósito que ela estivesse, por mais triste que ela pudesse estar, ela ainda fazia diferença, nem que fosse um pouco na vida de cada pessoa que existia em sua vida. E foi nesse momento que ela tomou uma decisão, foi a mais importante, a definitiva de como ela queria viver.
Ter coragem de viver
Finalizamos a nossa resenha de A Biblioteca da Meia-Noite com uma reflexão: viver é complicado, perigoso, desafiador e surpreendente, apesar de Nora Seed ter tido milhões de escolhas e infinitas possibilidades com a biblioteca da meia-noite, nós não temos o mesmo privilégio. É preciso ter coragem de viver, é preciso superar e buscar ajuda para superar as coisas mais difíceis, você jamais deve passar pelo pior momento de sua vida sozinho, pois nós, seres humanos, fomos feitos para viver em conjunto e aprender uns com os outros.
Nora demorou muito para aprender isso, mas quando finalmente aprendeu, ela encontrou dentro dela a coragem necessária para viver, a coragem necessária para enfrentar tudo que ela pudesse e principalmente a coragem para pedir ajuda. Precisamos ser nós mesmos, com as nossas vontades e sonhos, vivendo a vida que nós queremos, pois não adianta nada viver os sonhos de outras pessoas para agradá-las e esquecer de nós mesmos. Como a própria Nora diz em meio ao seu aprendizado, “precisamos ser somente uma pessoa e sentir apenas uma existência” e entender que, se nos foi dada aquela vida, precisamos ao menos tentar vivê-la.
Aviso de conteúdo sensível
O livro “A Biblioteca da meia-noite” contém os seguintes conteúdos sensíveis: depressão, intenção ao suicidio, sentimento de luto, menção a automutilação, menção a consumo abusivo de álcool.
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melhor resenha!
Obrigado pelo comentário!
Eu estou com muita vontade de ler esse livro!!! Está na minha lista!!
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