A 96.ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, marcada para 10 de março de 2024, promete ser uma noite de celebração do cinema, homenageando os melhores atores, técnicos e filmes de 2023. Dentre os indicados, destacam-se produções que têm suas raízes nas páginas dos livros e é nessas obras que queremos focar hoje. Dessa forma, este artigo se propõe a explorar e analisar os filmes inspirados em livros que foram indicados ao Oscar 2024. Caso você tenha interesse em conhecer todos os indicados, não apenas os relacionados à literatura, você pode conferir a lista completa nesta matéria da BBC.
Com o Teatro Dolby, em Los Angeles, Califórnia, como palco, a cerimônia será apresentada por Jimmy Kimmel e transmitida pela ABC nos Estados Unidos. As indicações, anunciadas em 23 de janeiro de 2024, revelam que Oppenheimer lidera com 13, seguido por Poor Things e Assassinos da Lua das Flores com 11 e 10 indicações, respectivamente.
Cada filme é uma jornada única, proporcionando ao público uma experiência que vai além da tela, uma vez que cada obra tem suas raízes em narrativas literárias envolventes.
Afinal, acreditamos que livros e filmes se complementam, enriquecendo a compreensão da narrativa e permite que o público desfrute de uma experiência mais completa e imersiva. Isso acontece porque os livros oferecem profundidade narrativa, explorando detalhes, contextos e emoções de forma mais aprofundada. Por outro lado, os filmes trazem essas histórias à vida visualmente, proporcionando uma experiência sensorial envolvente e intensificando a conexão emocional com os personagens e tramas.
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Oppenheimer (13 indicações)
Abrimos essa lista de filmes inspirados em livros que foram indicados ao Oscar 2024 com Oppenheimer. O filme de Nolan, com suas impressionantes 13 indicações ao Oscar, mergulha na vida complexa de J. Robert Oppenheimer, o homem que liderou o Projeto Manhattan durante a Segunda Guerra Mundial. O livro, vencedor do Prêmio Pulitzer, oferece uma visão vívida do “pai da bomba atômica,” explorando suas origens, sua brilhante carreira como físico e as complexidades morais que o atormentaram após o uso da bomba em Hiroshima e Nagasaki.
A narrativa biográfica de Bird e Sherwin se destaca por sua riqueza de detalhes, revelando não apenas os triunfos científicos de Oppenheimer, mas também suas lutas internas e seu conflito com a crescente histeria anticomunista na América do pós-guerra. Nolan, conhecido por sua habilidade em contar histórias complexas, utiliza a dualidade temporal para destacar não apenas a criação da bomba, mas também o subsequente julgamento de Oppenheimer, proporcionando uma experiência cinematográfica envolvente e provocativa.
O filme e o livro exploram a jornada ética de Oppenheimer, desde sua inicial dedicação ao desenvolvimento da bomba atômica para proteger os Estados Unidos até sua transformação em um crítico feroz dessa mesma arma de destruição em massa. Ambas as obras revelam as nuances de sua personalidade, apresentando um Oppenheimer brilhante, carismático, mas também atormentado pelos horrores causados por sua própria invenção.
Ao adaptar Oppenheimer para as telas, Nolan não apenas presta homenagem à vida fascinante do físico, mas também destaca a interseção entre ciência, ética e política na história recente dos Estados Unidos. O filme transcende as fronteiras de uma simples biografia, transformando-se em uma reflexão profunda sobre as escolhas humanas e suas repercussões globais.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Christopher Nolan), Melhor Ator (Cillian Murphy), Melhor Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr.), Melhor Atriz Coadjuvante (Emily Blunt), Roteiro Adaptado, Design de Produção, Figurino, Cinematografia, Edição, Maquiagem e Penteado, Som.
Pobres Criaturas (11 indicações)
Poor Things, dirigido por Yorgos Lanthimos e baseado no livro homônimo de Alasdair Gray, destaca-se como uma reinterpretação peculiar e envolvente do clássico Frankenstein de Mary Shelley. Com 11 indicações ao Oscar 2024, o filme mergulha nas páginas do romance satírico de Gray, proporcionando uma experiência cinematográfica única.
O livro, vencedor do Whitbread Novel Award e Guardian Fiction Prize, introduz os espectadores a uma narrativa ambientada na Glasgow do século XIX. A trama gira em torno de Bella Baxter, uma jovem criada pelo cientista Godwin Baxter para ser sua companhia. O enredo toma um rumo inesperado quando Godwin utiliza uma fórmula similar à de Frankenstein para trazer Bella de volta à vida. Contudo, o resultado é uma mulher que se comporta como uma criança vivaz e inconsequente.
Ao adaptar essa história, Lanthimos dá vida às excentricidades do livro, mantendo-se fiel à atmosfera única criada por Gray. A adaptação destaca não apenas a peculiaridade da premissa, mas também as reflexões sociais e culturais que permeiam a obra original.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Yorgos Lanthimos), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Adaptado, Direção de Arte, Figurino, Cinematografia, Edição, Maquiagem e Penteado, Trilha Sonora Original.
Assassinos da Lua das Flores (10 indicações)
O filme Assassinos da Lua das Flores, dirigido por Martin Scorsese e baseado no livro de não ficção de David Grann, mergulha nos eventos sombrios que cercam os assassinatos de membros da tribo indígena Osage nos anos 1920. Com 10 indicações ao Oscar 2024, o filme não apenas presta homenagem à investigação do FBI, mas também explora a ganância pelo petróleo e os primórdios da agência federal.
O livro de Grann, uma obra intensa e meticulosamente pesquisada, revela a trama sinistra liderada por William King Hale para se apropriar das vastas riquezas da tribo Osage, enriquecida pela descoberta de petróleo em suas terras. Scorsese, conhecido por suas narrativas cinematográficas detalhadas e envolventes, adapta essa história intrigante, proporcionando ao público uma visão cinematográfica rica em nuances históricas.
A trama não se limita apenas aos assassinatos brutais, mas também explora o surgimento do FBI como uma instituição em formação. O diretor, conhecido por sua habilidade em retratar a complexidade humana e as nuances da sociedade, destaca o papel do jovem diretor J. Edgar Hoover na resolução desses crimes. A criação de uma equipe secreta, liderada pelo ex-Ranger Tom White, revela as intrincadas camadas de investigação e as complexidades enfrentadas ao lidar com uma conspiração de grande escala.
Além disso, o filme oferece uma análise penetrante dos Estados Unidos da década de 1920, onde magnatas do petróleo, gangsters e a formação do FBI se entrelaçam em uma teia de poder e corrupção. O elenco possui estrelas como Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone e Robert De Niro.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Martin Scorsese), Melhor Atriz (Lily Gladstone), Melhor Ator Coadjuvante (Robert De Niro), Direção de Arte, Figurino, Cinematografia, Edição, Trilha Sonora Original, Canção Original (“Wahzhazhe (A Song For My People)”.
American Fiction (5 indicações)
American Fiction, a adaptação do romance Erasure de Percival Everett, conquistou o reconhecimento da crítica e diversas indicações ao Oscar, solidificando seu impacto no cenário cinematográfico.
A trama gira em torno de Thelonious “Monk” Ellison, cuja carreira de escritor está em declínio, enquanto observa o meteórico sucesso do primeiro romance de uma mulher que visitou “parentes em Harlem por alguns dias”. Em meio a tragédias familiares, incluindo a deterioração da mãe idosa de Monk devido ao Alzheimer e as reverberações do suicídio de seu pai, Monk, em um acesso de raiva e desespero, escreve um romance sob um pseudônimo.
A maneira como Monk lida com as consequências pessoais e profissionais desencadeia uma narrativa audaciosa, histérica e silenciosamente devastadora. A riqueza da trama e as performances excepcionais renderam ao filme seu lugar entre os indicados ao Oscar, destacando sua relevância e profundidade.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator para Jeffrey Wright, Melhor Ator Coadjuvante para Sterling K. Brown, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora Original
Zona de Interesse (5 indicações)
O filme adaptado do livro A Zona de Interesse aborda a vida e o amor entre os burocratas nazistas em Auschwitz. Martin Amis, conhecido por sua maestria na língua inglesa, apresenta uma narrativa poderosa e moralmente urgente que explora as complexidades da existência e do amor nesse contexto sombrio. A história se desenrola na chamada “zona de interesse” ou “kat zet” – o eufemismo nazista para Auschwitz.
O enredo gira em torno de três personagens principais: Paul Doll, o comandante do campo bêbado e grosseiro; Thomsen, sobrinho do secretário particular de Hitler, apaixonado pela esposa de Doll; e Szmul, um dos prisioneiros judeus encarregados de lidar com os corpos. Através desses três fios narrativos, Amis cria um retrato incisivo, profundo e, por vezes, humoristicamente sombrio do lugar mais infame da história.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Jonathan Glazer), Roteiro Adaptado, Som e Filme Internacional.
A Sociedade da Neve (2 indicações)
A Sociedade da Neve, baseada no livro de Pablo Vierci, oferece uma narrativa arrebatadora sobre a luta pela sobrevivência após um terrível acidente de avião nos Andes em 1972. Com duas indicações ao Oscar 2024, incluindo Melhor Filme Internacional, a produção da NETFLIX traz à vida uma história real de desespero, coragem e os extremos da condição humana.
O livro de Vierci, lançado em 2008 e editado pela Companhia das Letras no Brasil, detalha os eventos angustiantes enfrentados pelos sobreviventes do voo 571 da Força Aérea Uruguaia. Após o impacto, 29 dos 45 passageiros sobreviveram em uma das regiões mais hostis do planeta, os Andes. Presos em um ambiente inóspito, sem roupas adequadas e enfrentando temperaturas congelantes, os sobreviventes são forçados a tomar decisões extraordinárias para garantir a própria sobrevivência.
A adaptação cinematográfica, disponível na NETFLIX, recria visualmente a tensão e o desespero enfrentados pelos jovens que passaram mais de 70 dias nas montanhas geladas. A escolha de adaptar essa história real para as telas destaca a coragem dos sobreviventes, que enfrentaram condições inimagináveis, incluindo a decisão angustiante de recorrer ao canibalismo para se alimentar.
Indicações: Melhor Filme Internacional e Melhor Maquiagem e Penteado.
Nyad (2 indicações)
Nyad, uma adaptação baseada no livro Find a Way de Diana Nyad, recebeu duas indicações ao Oscar: Melhor Atriz para Annette Bening e Melhor Atriz Coadjuvante para Jodie Foster. O filme narra em primeira pessoa a notável jornada da autora, que quebrou recordes ao nadar de Cuba para a Flórida. Ao abordar as realizações precoces e os obstáculos enfrentados por Nyad, a história destaca o apoio por trás de sua decisão de retornar à natação competitiva e sua determinação em viver a vida no mais alto nível.
Indicações: Melhor Atriz (Annette Bening) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jodie Foster).
A Cor Púrpura (1 indicação)
A Cor Púrpura, inspirado no livro de Alice Walker, obteve uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante para Danielle Brooks. A adaptação cinematográfica captura a essência do romance, que ganhou o Pulitzer e o American Book Award, explorando a dolorosa e esperançosa jornada das irmãs Celie e Nettie ao longo de décadas marcadas por separações, silêncio e lealdade.
O enredo, ambientado no Sul dos Estados Unidos entre 1900 e 1940, narra a história de Celie, uma mulher negra, pobre e semianalfabeta, cuja vida foi marcada por violência e abuso desde a infância.
O filme, dirigido por Steven Spielberg, destaca a brutalidade sofrida por Celie, forçada a se casar com um homem violento. A narrativa se desenrola por meio de cartas que Celie escreve para Deus e para sua irmã Nettie, missionária na África. Essas cartas refletem a evolução da linguagem de Celie, sua crescente experiência e a construção de amizades, incluindo a inesquecível Shug Avery, uma cantora de jazz.
A trama é uma poderosa história de transformação e redenção, oferecendo uma crítica afiada ao poder desigual na sociedade. A indicação ao Oscar reconhece não apenas a performance cativante de Danielle Brooks, mas também a relevância atemporal de A Cor Púrpura.
Indicações: Melhor Atriz Coadjuvante (Danielle Brooks)
Nimona (1 indicação)
Nimona, baseada na obra de ND Stevenson, conquistou uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Animação. A trama segue a história de Nimona, uma jovem metamorfa impulsiva com inclinação para a vilania, e Lord Ballister Blackheart, um vilão com sede de vingança. Juntos, como parceiros e supervilões, eles desencadeiam o caos para provar que Sir Ambrosius Goldenloin e a Instituição de Aplicação da Lei e Heroísmo não são os heróis que todos acreditam.
A narrativa, inicialmente uma sensação como webcomic e posteriormente best-seller do New York Times, destaca-se por sua abordagem brilhantemente subversiva, combinando elementos de antagonismo, dragões, ciência e simbolismo.
A obra oferece uma reviravolta afiada e irreverente no épico tradicional, explorando a imprevisibilidade de Nimona e as complexidades de seu passado. A indicação ao Oscar reconhece não apenas a originalidade narrativa de Nimona, mas também seu impacto visual, representando uma aclamação para esta história de vilania, amizade e imprevisibilidade.
Indicações: Melhor Animação
Conclusão
Os filmes inspirados em livros que foram indicados ao Oscar 2024 oferecem uma variedade de narrativas e gêneros, desde dramas históricos até histórias de sobrevivência extrema. Cada adaptação traz uma perspectiva única sobre as complexidades humanas, explorando temas que vão desde dilemas éticos até a luta pela justiça.
À medida que aguardamos ansiosamente a cerimônia do Oscar, é evidente que a interseção entre literatura e cinema continua a ser uma fonte rica de inspiração para narrativas impactantes. A premiação não apenas celebra a excelência cinematográfica, mas também destaca a importância das histórias contadas, seja através das palavras de um livro ou das imagens em movimento em uma tela de cinema.
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