Itamar Vieira Junior nasceu em Salvador, Bahia, em 1979. Formado em geografia, ele concluiu o mestrado e o doutorado em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia. Como servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), atuou diretamente com comunidades quilombolas no interior da Bahia. Essa experiência de campo alimenta sua obra literária, na qual o autor recupera histórias de famílias camponesas, comunidades afro‑descendentes e a relação das pessoas com a terra.
Sua produção inclui livros de contos e romances que receberam alguns dos prêmios literários mais importantes do país, como o Prêmio Leya, o Oceanos e o Jabuti. A seguir, apresentamos os melhores livros de Itamar Vieira Junior e o que torna cada um deles especial.
Torto Arado (2019)

O romance Torto Arado tornou Itamar Vieira Junior um fenômeno editorial no Brasil e no exterior. Publicado inicialmente em Portugal por ter vencido o Prêmio Leya em 2018, o livro chegou ao Brasil em 2019 e rapidamente acumulou prêmios, como o Jabuti e o Oceanos. Ambientado na Chapada Diamantina, acompanha as irmãs Bibiana e Belonísia, filhas de trabalhadores rurais que vivem em condições de semi‑escravidão. Um acidente na infância, que corta a língua de uma das meninas, cria um vínculo profundo entre elas e guia a narrativa, que mistura realismo e elementos da religião Jarê.
O livro foi influenciado pelas experiências do autor com comunidades quilombolas e aborda a luta por terra e liberdade, evocando autores modernistas como Jorge Amado, mas com voz própria. Torto Arado vendeu mais de um milhão de exemplares e tornou‑se um fenômeno editorial em Portugal e no Brasil, com ampla repercussão crítica. No contexto desta lista, ele ocupa um lugar central por retratar as raízes do Brasil rural com lirismo, denúncia social e personagens inesquecíveis.
Salvar o Fogo (2023)
Segundo volume de uma trilogia sobre a terra, Salvar o Fogo aprofunda o tema da relação das pessoas com o campo e com a memória. O romance se passa em Tapera do Paraguaçu, uma comunidade rural afro‑indígena dominada pela igreja, e acompanha o jovem Moisés, seu pai Mundinho e sua irmã Luzia. Luzia é quem conduz Moisés a descobrir os segredos da família e a enfrentar as injustiças locais. Uma tragédia os separa, mas também abre a possibilidade de reaproximar os irmãos e resgatar as raízes familiares.
O livro intercala pontos de vista de vários personagens e mostra como os fantasmas do passado de uma família “não se distinguem das sombras do próprio país”.
Salvar o Fogo venceu o Prêmio Jabuti de romance literário em 2024 e consolidou a projeção internacional do autor. A obra mostra como as histórias de famílias camponesas, iniciadas em Torto Arado, continuam a ecoar, dialogando com questões de raça, religião e pertencimento.
Doramar ou a Odisseia (2021)
Nesta coletânea de contos, Itamar Vieira Junior revisita lugares e personagens do interior do Brasil com delicadeza e profundidade. As narrativas apresentam homens e mulheres que enfrentam limitações impostas pela desigualdade, mas que mesmo assim buscam amor, dignidade e pertencimento. O livro dialoga com a tradição literária brasileira ao mesmo tempo que aborda questões contemporâneas, como migração e identidade.
Para quem conheceu Torto Arado, os contos de Doramar ou a Odisseia ampliam o universo do autor e reforçam sua capacidade de retratar o Brasil profundo com lirismo e crítica social.
A Oração do Carrasco (2017)
Antes de se tornar mundialmente conhecido, Itamar publicou A Oração do Carrasco, livro de sete contos que explora a compaixão e a violência. As histórias abordam personagens invisíveis: um escravizado que decide fugir, amigos separados por guerras, um carrasco misericordioso que lembra mártires históricos, um guerreiro que busca uma planta curativa e uma refugiada que espera o marido em Salvador. Cada texto revela injustiças sociais e ressalta a dimensão humana dos que sofrem opressão, sem cair em sentimentalismo.
A obra foi finalista do 60º Prêmio Jabuti e venceu o Prêmio Humberto de Campos. Ela antecipa temas que serão aprofundados em Torto Arado, como a relação com a terra e o legado escravista, e demonstra a habilidade do autor em criar narrativas breves de grande impacto.
Dias (2012)
Dias marca a estreia de Itamar Vieira Junior na literatura. Lançado pela editora Caramurê, o livro reúne contos que já evidenciavam a preocupação do autor com questões sociais e a vida no interior. A coletânea venceu o XI Prêmio Projeto de Arte e Cultura da Bahia, reconhecimento que o impulsionou a seguir carreira literária. Embora menos conhecido que seus trabalhos posteriores, Dias é fundamental para entender o caminho percorrido pelo escritor até obras como Torto Arado.
Chupim (2024) – literatura infantil
Depois de conquistar leitores adultos, Itamar Vieira Junior estreou na literatura infantil com Chupim, em coautoria com a artista plástica Manuela Navas. O livro apresenta o menino Julim, que pela primeira vez acompanha o pai aos campos de arroz para espantar pragas; a narrativa retoma o universo de Torto Arado e mostra a realidade do campo.
Itamar explicou sobre esse livro que desejava recontar a história já vista em Torto Arado “sob a perspectiva de uma criança”, mostrando a semelhança entre Julim e o pássaro Chupim. A obra expõe a desigualdade social e o trabalho infantil nas plantações e convida os leitores a perceberem que trabalhadores rurais e pragas compartilham a luta pela sobrevivência.
Conforme a sinopse da loja Google Play, Chupim recebeu o Prêmio The BRAW Amazing Bookshelf – Bologna Ragazzi Award 2025 e integrou a lista dos “30 Melhores Livros Infantis de 2024” da revista Crescer
O livro de Itamar Vieira Junior é ambientado no mesmo universo que consagrou Torto Arado; Julim vai pela primeira vez aos campos de arroz, onde as crianças espantam os pássaros chupins enquanto os trabalhadores colhem. Esses reconhecimentos confirmam que, mesmo voltado ao público infantil, o livro mantém o engajamento social característico da obra de Itamar.
Como os livros dialogam entre si
Ao analisarmos os melhores livros de Itamar Vieira Junior, percebemos um fio condutor: o compromisso com a terra, a memória e a justiça. Os contos de Dias e A Oração do Carrasco introduzem temas que desabrocham no romance Torto Arado: mulheres fortes, comunidades negras rurais e a herança da escravidão. Doramar ou a Odisseia amplia esse universo com personagens que, mesmo limitados pela pobreza e pelo racismo, nunca perdem a capacidade de sonhar. Em Salvar o Fogo, o autor retoma a saga do povo do campo, reforçando a trilogia sobre a terra e conectando‑se às lutas quilombolas que o próprio autor vivenciou.
Por fim, Chupim traduz essa mesma realidade para as crianças, mostrando que as histórias do campo e as desigualdades persistem e precisam ser narradas desde cedo. Ao ler a obra de Itamar Vieira Junior em conjunto, observamos um projeto literário coeso e comprometido: dar voz aos invisíveis, denunciar injustiças e celebrar a força da coletividade.
Conclusão
Itamar Vieira Junior consolidou-se como uma das vozes mais potentes da literatura brasileira contemporânea. Seu olhar geográfico e sua vivência com comunidades rurais permitem retratar com autenticidade as dores e as resistências do Brasil profundo. Do debut Dias ao fenômeno Torto Arado, passando pelos contos de A Oração do Carrasco e Doramar ou a Odisseia, pelo épico Salvar o Fogo e pela ternura de Chupim, seus livros formam uma tapeçaria de histórias interligadas que convidam o leitor a refletir sobre passado, presente e futuro. Quem busca conhecer o país além dos centros urbanos encontrará na obra de Itamar um guia sensível e rigoroso, que transforma injustiças e afetos em literatura de altíssima qualidade.
O que achou da nossa lista de melhores livros de Itamar Vieira Junior? Conte abaixo um pouco da sua experiencia com o autor!