Os Melhores Livros agora também em vídeo

Canal no YouTube: Junte-se a milhares de leitores e mergulhe em análises sinceras, curiosidades literárias e indicações exclusivas em vídeo.

Seguir hypes quase me fez abandonar a leitura

livros para ler

Durante muito tempo eu achei que o problema comigo como leitor era simples falta de disciplina. Eu começava leituras empolgado e abandonava antes da metade. Entrava em ressacas literárias intermináveis e perdia completamente a vontade de iniciar um novo livro. Aos poucos fui criando a sensação de que talvez eu simplesmente não gostasse tanto de ler quanto gostaria de admitir.

A verdade demorou mais para aparecer, mas quando apareceu foi impossível ignorar. Meu pior erro como leitor não era desinteresse por leitura. Era seguir hypes que não tinham nada a ver comigo.

Quando a leitura virou obrigação

Com o crescimento das redes sociais literárias, do BookTok às listas virais de mais vendidos, surgiu uma pressão silenciosa para ler determinados livros. Eles estavam em todo lugar. Todo mundo comentava. Parecia quase uma obrigação estar atualizado com aquelas histórias. Quando eu não gostava do que lia, a culpa não recaía no livro, e sim em mim. Eu pensava que o problema estava no meu gosto, na minha capacidade de ler, na minha sensibilidade como leitor.

Passei a escolher livros não por vontade real, mas para participar da conversa. Lia para estar por dentro, para não parecer deslocado, para acompanhar a tendência da vez. O prazer silenciosamente foi dando lugar à sensação de dever cumprido, quando eu conseguia terminar alguma coisa, ou ao peso da frustração quando largava um volume pelo caminho.

O erro em essência

O grande equívoco era simples e cruel. Eu confundia sucesso comercial com afinidade pessoal. Tentava gostar de livros apenas porque eram populares. Estava adaptando meu gosto para caber no hype, quando deveria estar fazendo justamente o oposto.

Eu lia tentando me ajustar às modas literárias, em vez de buscar leituras alinhadas com aquilo que sempre me tocou de verdade como leitor. Estava tentando gostar dos livros certos para o momento da internet, e não dos livros certos para mim.

O resultado foi previsível. Veio a ressaca literária. Veio o hábito de abandonar leituras pela metade. Veio a perda da vontade de começar algo novo. Veio a dúvida incômoda se eu realmente era um leitor de verdade.

O reencontro com a leitura

A mudança começou quando eu simplesmente me permiti sair do piloto automático dos hypes. Decidi confiar no meu próprio gosto. Passei a procurar livros que me chamavam atenção não pelo barulho ao redor deles, mas pela promessa de experiência que ofereciam.

Foi assim que eu me reconectei com a leitura de verdade.

Bartleby, o escrivão foi uma das primeiras surpresas. Um livro curto, estranho, silencioso e profundamente impactante. Depois veio Pergunte ao Pó, de John Fante, com sua literatura seca, humana, visceral e sem romantizações. O Hobbit resgatou o prazer puro da narrativa, aquela sensação de entrar em um mundo e simplesmente se deixar levar. Vidas Secas mostrou que profundidade não precisa ser pesada para ser poderosa. Flores para Algernon provou como emoção e ficção científica podem caminhar juntas. A Mão Esquerda da Escuridão expandiu minha percepção do que a ficção científica literária pode oferecer.

Outros livros confirmaram definitivamente esse reencontro.

O Estrangeiro, de Albert Camus, trouxe uma leitura existencial direta, sem dramaticidade excessiva. Guerra do Velho, de John Scalzi, juntou aventura envolvente com reflexões maduras sobre envelhecimento, identidade e guerra. E Duna, de Frank Herbert, abriu diante de mim uma narrativa épica onde política, religião, ecologia e filosofia se misturam de forma ambiciosa, profunda e fascinante.

Nenhum desses títulos era o hype absoluto da vez quando eu os li. Mas todos dialogaram com quem eu sou como leitor.

Afinando o meu radar literário

Nesse processo eu também precisei revisar de onde vinham as minhas referências. Passei a buscar canais literários de criadores cujo gosto combinava com o meu, deixando de seguir perfis genéricos que apenas repetiam listas virais. Criador certo vale mais do que algoritmo.

Também entrei em grupos de leitura e comunidades online. Conversar sobre livros com pessoas reais muda completamente a experiência. Você descobre autores fora do radar do marketing e percebe como recomendações humanas são muito mais poderosas do que tendências impessoais.

Além disso, voltei a conversar com amigos leitores que tinham gostos parecidos com o meu. Foi em muitas dessas conversas que surgiram indicações que se tornaram algumas das leituras mais marcantes dos últimos anos.

A grande lição

Aos poucos ficou claro para mim que não existe livro universal. O que encanta um leitor pode ser completamente indiferente para outro. Literatura não é competição nem lista de tarefas. É experiência pessoal e íntima.

Meu aprendizado foi simples, mas mudou tudo.

Seu gosto é uma bússola.
O hype é só vento.

Um pequeno guia para fugir da armadilha do hype

Se você anda frustrado com a leitura, talvez esteja passando pelo mesmo processo que eu passei. Algumas atitudes ajudam muito a quebrar esse ciclo.

  • Descubra seu tipo de leitura preferido.
  • Siga criadores com gostos semelhantes aos seus.
  • Participe de grupos de leitura.
  • Converse com amigos leitores.
  • Abandone livros sem culpa.
  • Ignore tendências quando elas não fizerem sentido para você.

Talvez o problema nunca tenha sido você

Se você não gostou de um livro super famoso da vez, não há nada errado nisso. Talvez você apenas tenha lido algo que não era para o seu momento como leitor.

A leitura só volta a ser prazer quando deixa de ser pressão social e volta a ser escolha pessoal.

E você

Qual foi o hype literário que todo mundo amou mas que não funcionou com você
Conta aqui nos comentários. Eu realmente gosto de ouvir essas histórias.

Nota editorial: este artigo foi originalmente publicado em 1 de dezembro de 2025 e atualizado pela última vez em 1 de dezembro de 2025 para refletir mudanças recentes e novas informações verificadas.

Sobre o Autor

Rafael Hertel
Rafael Hertel

Rafael Hertel é um jornalista, criador e o crítico literário por trás do site Os Melhores Livros. Apaixonado por leitura desde jovem, sua jornada o levou a explorar o vasto mundo literário com um toque único. Com mais de 4.5 milhões de leitores desde sua criação, o OML é reconhecido como o principal site de resenhas de livros do Brasil. Cada post é uma porta de entrada para descobertas emocionantes no fascinante reino dos livros.

0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *