O livro O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro é um daqueles livros que são leitura obrigatória na formação intelectual de um cidadão brasileiro. Essa obra é de extrema importância para entender de fato a formação do que é chamado de o povo brasileiro que é algo tão diferente que o autor conclui sua obra introduzindo o conceito de “Nova Roma”, ou seja, algo totalmente novo e grandioso. Ao meu ver isso chega a ser uma característica levemente ufanista do autor, na medida em que ele observa que desse processo deve sair algo glorioso.
O livro é uma análise da formação étnica e cultural do povo brasileiro, desde os povos indígenas que habitavam o país antes da chegada dos portugueses até os dias atuais. Ribeiro mostra como a mistura de diferentes povos, como índios, europeus e africanos, deu origem a uma cultura única no Brasil. Ele argumenta que essa cultura é caracterizada por uma grande diversidade e por uma tendência à miscigenação.
O autor também destaca a importância dos povos indígenas na formação da cultura brasileira e critica a forma como eles foram tratados ao longo da história. Ele aborda ainda a escravidão africana e sua influência na cultura brasileira.
Ao longo do livro, Ribeiro apresenta diversas reflexões sobre a identidade brasileira e a importância de valorizar as raízes culturais do país. Ele propõe uma visão positiva da miscigenação e da diversidade cultural, argumentando que elas são características fundamentais da identidade brasileira.
Em essência, “O Povo Brasileiro” é um livro histórico que busca compreender a formação da identidade brasileira a partir da mistura de diferentes povos e culturas, destacando a importância da diversidade e da valorização das raízes culturais do país.
O Povo Brasileiro: O Processo de Colonização
Darcy Ribeiro observa durante a sua obra as primeiras relações que os povos nativos tiveram com os portugueses. Demonstra como os portugueses souberam utilizar as suas tecnologias europeias para cooptar os indígenas a realizarem a extração de recursos naturais brasileiros que seriam muito valiosos nas terras europeias. Souberam utilizar as desavenças entre os povos indígenas que aqui se encontravam para que guerreassem entre si, privilegiando as tribos amigas.
Como havia poucas mulheres entre os primeiros imigrantes, homens brancos relacionaram-se com mulheres indígenas, tendo filhos mestiços, que posteriormente ficaram conhecidos como mamelucos.
Em etapa posterior, há a introdução do escravo africando na sociedade brasileira e também a sua miscigenação. Da mesma forma, escravos africanos geralmente eram separados de outros com mesma origem étnica, assim perdendo aos poucos seus costumes e origens. Por fim, a sociedade brasileira, neste período, passa a ser apenas um “conglomerado de gentes”, como diz o autor, com miscigenação de negros, índios e brancos caracterizados pela descaracterização cultural desses povos e poucos portugueses que, então, representavam a elite.
Nesse caldeirão emerge uma nova cultura popular no seio dos mamelucos e caboclos que vai rapidamente se integrar também como brasileiros as grandes levas de imigrantes europeus que chegam no século XIX e XX, notadamente italianos, portugueses, árabes, espanhóis e alemães – em menor grau de assimilação cultural, segundo o autor, estariam as comunidades japonesas que resistiram um pouco mais devido à sua diferenciação fenotípica.
Portanto, pode-se dizer que as entre características da formação do povo brasileiro estão: a miscigenação, o conflito, a escravidão de negros e índios, a catequização (quando a igreja católica passa a converter índios e negros para o cristianismo), a profunda desigualdade social, entre outros.
O Povo Brasileiro: O Plantio de Cana de Açúcar
A introdução do plantio de cana de açúcar no nordeste brasileiro foi caracterizada pela destruição da estrutura tribal dos povos indígenas que ali viviam e a introdução da escravidão indígena e posteriormente o trabalho forçado via tráfego de escravos africanos. Em pouco tempo a economia relacionada à cana de açúcar ultrapassou a extração de pau brasil como fonte primária de recursos, e, assim, foi se desenhando uma sociedade escravocrata. Também neste período iniciou-se a difusão do português em supressão às linguagens indígenas e também a difusão da igreja católica entre as populações locais.
Em consequência desse processo histórico, criou-se uma estrutura fundiária que ainda prevalece no Nordeste, com forte concentração fundiária e grande influência de famílias poderosas, conhecidas na cultura popular como “Coronéis”.
Além das figuras da elite e dos escravos, surge a figura do mameluco, a primeira onda de miscigenação que ocorre no Brasil, provenientes (em geral) da mistura entre homens brancos e mulheres indígenas. Esses mamelucos passam a ter que buscar sua identidade como povo, já que eram rejeitados pelos povos indígenas e também pelas classes dominantes.
Em São Paulo, os engenhos de açúcar não prosperaram. Ali, desenvolveu-se uma associação de mamelucos com índios livres, que se dedicariam a capturar outros povos indígenas para vendê-los como escravos, desta forma alimentando a economia nordestina, que era baseada na escravidão.
O Brasil Sulino
O autor demonstra que o Sul difere-se não só do restante do Brasil, como também entre si, formando três principais grupos culturais – o matuto, o gaúcho e o gringo. Segundo o autor, o matuto seria de origem açoriana, trazido inicialmente para ocupar as regiões litorâneas, notadamente no Paraná.
O Sul deve a sua exploração inicial aos Jesuítas. A Metrópole queria estender sua presença até o Rio da Prata e começa a tentar atrair os colonos dali que estavam em zona de influência espanhola. Em um segundo momento, os jesuítas trazem das bandas orientais o gado e os povos miscigenados que ali estavam passam a enxergar os pampas como ótimo local para criação de gado para alimentação e equinos para transporte – tais animais seriam negociados com os povos que estavam nas Minas Gerais.
Com técnicas nordestinas, os gaúchos passam a produzir charque, o que dá um novo boom à economia local. Assim, aos poucos a economia do atual estado do Rio Grande do Sul vai se conectando cada vez mais à restante do país, mudando a orbita de influência para a América Portuguesa (Posteriormente o charque, que era tão importante para a economia local, chega a ser ameaçado por um aumento de tributos imposto pelo governo central, inclusive o aumento do imposto sobre charque um dos estopins para a Revolta dos Farrapos). No contexto do Rio Grande do Sul nascem as estâncias – que reproduzem a mesma lógica de concentração de terra.
Posteriormente uma imensa massa de imigrantes europeus (notadamente italianos e alemães, mas também de outras nacionalidades, que vão se instalar no interior do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) traz junto consigo o modo de produção granjeiro que era comum em seus países, criando núcleos familiares em pequenas propriedades que não serviam apenas para a subsistência, mas também geravam excedente e que acabava conectando as regiões que eles ocuparam às mais densamente ocupadas do sudeste e nordeste brasileiro. Esses povos também trazem consigo o espírito industrializador, já que a Itália e Alemanha passaram por sua industrialização ao longo do século XIX. Deste fluxo de imigrantes resultou-se uma menor concentração de renda e terras, resultando em indicadores sociais levemente melhores que em outras regiões do país.
Conclusão
Esse estudo sociológico presente em O Povo Brasileiro é muito interessante. São apresentadas diversas reflexões sobre a nossa história que nos fazem refletir muito e entender como chegamos até aqui. E você, leu Darcy Ribeiro? Deixe nos comentários a sua opinião ou como o livro mudou a sua vida!
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